São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004


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VALOR ARTESANAL

Comunidades se estruturam para eliminar os intermediários e ganhar mercado

Varejo aposta no charme do artesanato

BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Capim dourado, algodão de cor, bagaço de cana, plástico reciclado, osso de boi, madeira reaproveitada, barro, couro e bambu. Com tanta variedade de matérias-primas, o artesanato se tornou alternativa fácil à massificação e caiu no gosto do mercado consumidor, sempre em busca de produtos originais e diferenciados.
Preocupadas em ganhar qualidade sem perder história e tradição, comunidades artesãs respondem com estrutura e profissionalização e já conseguem negociar diretamente com o varejo, eliminando os atravessadores.
Segundo consultores, designers e especialistas em artesanato ouvidos pela Folha, comercializar artigos artesanais é uma maneira de ganhar dinheiro valorizando a cultura regional. Basta observar o espaço já conquistado na decoração, na moda e em grandes lojas de utensílios para a casa para perceber que o artesanato é uma bela oportunidade de negócio.
Uma prova disso foi o desempenho das rodadas de negócios do Encontro Internacional de Negócios de Artesanato, que terminou no último dia 8 em Salvador. Foram R$ 2,5 milhões movimentados em apenas dois dias, com cerca de 1.100 agendamentos (pedidos concretos e conversas adiantadas para encomendas).
Promovido pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), com apoio da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o evento reuniu representantes do artesanato de 24 Estados brasileiros e do Distrito Federal. Das rodadas participaram 42 compradores de médio e de grande porte, do Brasil e de outros nove países, selecionados pelos organizadores.

Contato direto
Uma das maiores vantagens do evento, segundo os especialistas, foi aproximar interessados nesse comércio. A informação e a maior distribuição dos produtos são as armas dos artesãos para combater o atravessador. Para isso, contam com a ajuda de ONGs, do governo e de empresas públicas.
"Não é pecado revender [artesanato], mas é preciso fazer isso de forma criteriosa. Não é só ir lá e comprar. É fazer com que os membros da comunidade sejam atores nesse processo", defende Jurema Machado, representante da Unesco no Brasil.
Aberta em novembro passado na Vila Mariana (zona sul de São Paulo), a Casa da Vila é um exemplo desse movimento. Montada em um casarão restaurado de 1929, a loja dá ao cliente a chance de ver como decorar cada cantinho da casa com artesanato.
"Mostramos que fica bonito colocar uma coisa caipira no meio de uma decoração clássica. São toques que fazem o ambiente ficar com mais aconchego. Não é coisa só de fazenda", diz Vanessa Souza Gomes, 26, uma das donas.
A empresária conta que a proposta nasceu por acaso. "Minha mãe tem uma loja de móveis e começou a colocar aos poucos o artesanato como decoração para valorizar as peças. Começou a aparecer um monte de gente querendo comprar", descreve.
O público é variado. Há peças de R$ 3 (ímãs de geladeira feitos com caixinhas de fósforos) mas também colchas de algodão bordadas à mão por cerca de R$ 1.500. Outra vantagem é que não é necessário ter estoque. "Tudo o que temos está exposto."


O jornalista BRUNO LIMA viajou a convite do Sebrae Nacional

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