São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 2006


Próximo Texto | Índice

EMBATE NO ALTO-FALANTE

Proteção contra mercadorias importadas causa racha em vários setores como o de brinquedos

Salvaguardas dividem indústria e varejo

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Importadores e varejistas discordam do pedido de prorrogação de salvaguarda, solicitada pela indústria, para o setor de brinquedos


RAQUEL BOCATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A polêmica sobre as salvaguardas está no ar. Em outubro passado, o Ministério do Desenvolvimento disponibilizou um formulário on-line a fim de iniciar a abertura de investigação de salvaguardas a produtos chineses.
Em janeiro, os empresários brasileiros conheceram o outro lado da moeda: num acordo com o governo, a Argentina criou mecanismos para restringir a importação de mercadorias fabricadas aqui.
Medidas protecionistas têm o poder de agradar e, ao mesmo tempo, perturbar o setor beneficiado. O segmento de brinquedos ilustra bem esse conflito. Enquanto a indústria, capitaneada pela Abrinq (Associação Brasileira dos Produtores de Brinquedos), pleiteia a manutenção de alíquotas de importação de 28% -que durarão até junho-, o varejo e os importadores estão decididos a lutar para aniquilar essa possibilidade.
"A salvaguarda destruiu a competitividade da indústria. Depois de quase dez anos, chega a ser uma ofensa [o pedido de prorrogação]", opina Ronald Schaffer, do Movimento pela Liberdade de Escolha do Brinquedo, que congrega mais de 40 empresas.
Segundo Schaffer, a taxação de itens como bonecas e carrinhos importados fez com que as fábricas brasileiras "se acomodassem". "Hoje, o brinquedo custa de duas a três vezes mais para o consumidor. Os preços elevados fizeram com que o contrabando crescesse imensamente no país."
A indústria se defende. Rebate às críticas afirmando que é impossível competir em pé de igualdade com bens subfaturados da Ásia. De acordo com a Abrinq, o preço médio do quilo de brinquedo é de US$ 10. Em portos brasileiros, porém, são registradas guias de importação de US$ 1,1.
"O setor é formado por 285 empresas. Dessas, 260 são micro e pequenas. Caso não haja a prorrogação da salvaguarda, elas quebram", sentencia o presidente da Abrinq, Synésio Batista da Costa.
Sobre a acusação de que a indústria não se desenvolveu nesse período, Costa afirma que as empresas investiram em aprimoramento. "Oferecemos 4.500 tipos de produtos. Só não temos como agüentar a importação ilegal."

Os outros
O debate não está restrito ao segmento de brinquedos. As associações do comércio e da indústria de São Paulo também têm posições distintas quando o tema envolve medidas protecionistas.
"Em princípio, as salvaguardas devem ser temporárias, já que seu intuito é auxiliar um setor com incapacidade momentânea. O problema é que elas podem agradar a alguns setores, mas não à toda a sociedade", diz o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos.
O diretor de comércio exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Roberto Gianetti da Fonseca, também defende o prazo de validade para as salvaguardas, mas afirma que elas só prejudicarão os importadores que vendem produtos da China e o varejo que comercializa esses itens. "Quem importa do fabricante não terá problema."


Próximo Texto: Indústria acumula 28 petições
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.