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São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003


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ESTRATÉGIA

Promovido por órgãos governamentais e de comércio, método facilita formação de parcerias

Rodadas de negócios já dão as cartas

EDSON VALENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

As mesas estão dispostas. Os jogadores se observam, um a um ou em pequenos grupos. A sorte está lançada. Mas não se trata de um jogo de cartas ou de dados em um salão de um cassino. A rodada, no caso, é de negócios mesmo.
O sistema tem sido utilizado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e por outras entidades para colocar frente a frente pequenos e médios empresários e seus possíveis parceiros, num ambiente preparado para gerar contatos.
A Endeavor, entidade que apóia o empreendedorismo, também promove essas rodadas. "São networks [redes de relacionamento] focadas, em que são agrupadas empresas em busca de fornecedores ou de investidores", define a diretora-geral, Marília Rocca.
Ela afirma que o número de participantes tem aumentado, e o seu perfil tem se diversificado.
"No começo, há dois anos, só havia fundos de investimento participando. Depois passamos a convidar escritórios de advocacia, que poderiam orientar empreendedores em questões específicas. Agora pensamos em chamar agências governamentais, que têm produtos pouco conhecidos para atender empresários", diz.

"Tête-à-tête"
Muitos órgãos internacionais de comércio são adeptos da prática. A Kotra, divisão comercial do Consulado Geral da República da Coréia, por exemplo, promove cerca de dez sessões por ano.
Na mais recente, realizada no final do mês passado, em uma sala no hotel Crowne Plaza, em São Paulo, 17 empresas sul-coreanas buscavam parceiros entre empreendedores brasileiros. Há a expectativa de que aquele evento tenha movimentado entre US$ 4 milhões e US$ 5 milhões.
Cada mesa do salão foi ocupada por um ou mais representantes de uma companhia oriental. Das 9h às 17h, foram previamente agendadas, com duração de meia hora cada encontro, reuniões individuais com empresários brasileiros prospectados pela Kotra.
Segundo Marcos Hermano Ribeiro, economista da organização, as empresas brasileiras não conhecem as coreanas, por um "entrave de cultura". Contudo, "as relações entre os dois países devem se estreitar, impulsionadas por acordos comerciais", diz ele.
Participaram da missão fabricantes de porte médio, como a Sei Jin Machinery, que faz trançadeiras de fios metálicos utilizadas pela indústria têxtil. Um dos que se sentaram à mesa com essa companhia foi Humberto Nadolsky, 49, presidente da Nadolsky, também produtora de máquinas trançadeiras. Seu objetivo era "ter uma noção" dos preços do concorrente para, se possível, revender seus equipamentos no Brasil.
O "tête-à-tête", contudo, durou menos de 20 minutos. "Ele [o empresário coreano] quer ser muito pragmático na divulgação da máquina", constatou. "Para ser vendida no mercado brasileiro, são necessárias mais informações ou até mesmo amostras."
Nadolsky conta que o candidato a futuro parceiro disponibilizou seu e-mail para dar continuidade às negociações, mas não mostra muito otimismo quanto às possibilidades de concretização.

Missão britânica
Mas "bater o martelo" nem sempre é o maior objetivo da rodada. "Ela serve para uma aproximação de mercado, um contato direto entre oferta e demanda", diz Pamela Pastene, coordenadora de rodadas de negócios do Sebrae-SP. "A efetivação do negócio depende do preço, da logística, da qualidade do vendedor", avalia.
Os eventos também podem ser multissetoriais, ou seja, congregar diferentes ramos. É o caso da missão comercial britânica promovida pela Câmara de Comércio de Mid Yorkshire, do Reino Unido.
Entre 30 de março e 4 de abril, representantes de 26 empresas da região estiveram em cidades brasileiras, como São Paulo e Belo Horizonte, para reuniões de prospecção de oportunidades. As áreas de patrimônio histórico e de saúde foram priorizadas na visita.
Um grupo de seis técnicos britânicos veio com o intuito de firmar parcerias para desenvolver o turismo cultural na cidade de São Paulo. "Queremos trocar idéias e gerar trabalhos conjuntos", definiu Chris Meaney, diretor da Harvard Consultancy Services.


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