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São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003


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Proibição nos EUA estimula setor a implantar auto-regulamentação no Brasil antes que o governo aja

Telemarketing vê crise de identidade

Fernando Moraes/Folha Imagem
Oscar Teixeira Soares, da Auttel, diz temer restrições do governo ao setor, que poderia sofrer crise


RENATO ESSENFELDER
EDITOR-ASSISTENTE DE EMPREGOS E NEGÓCIOS

O setor de telemarketing está em alerta. Desde que o governo dos Estados Unidos lançou, no final de junho, uma lista pública contra ligações indesejadas -na qual qualquer cidadão pode se inscrever para não ser alvo de chamadas de call centers-, acendeu-se também no Brasil o debate sobre os limites éticos da prática.
As empresas do setor temem que os parlamentares daqui sejam influenciados pela medida americana e adotem controle similar. Enquanto isso, firmas que usam telemarketing avaliam se a agressividade dos operadores não está trazendo mais prejuízos do que lucros.
Antes que o governo decida agir, entidades como ABT (associação do telemarketing), Abemd (de marketing direto), Abrarec (das relações empresa-cliente) e Sintelmark (sindicato das empresas do setor) articulam a criação de um mecanismo de auto-regulamentação semelhante ao Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária).
"Temos de normatizar, e não proibir, o telemarketing", diz o presidente da Abrarec, Roberto Meier. "Estamos preocupados, pois o governo pode criar restrições, e, caso isso venha a acontecer, vamos ter problemas muito sérios", completa o presidente do Sintelmark e dono do call center Auttel, Oscar Teixeira Soares.
Uma crise no setor, dizem os empresários, não afetaria só os call centers, mas todo o país. Isso porque o segmento movimentou nada menos do que R$ 65 bilhões em 2002 e emprega atualmente 500 mil pessoas, que ganham, em média, de R$ 300 a R$ 1.000.
A preocupação com o surgimento de um cadastro antitelemarketing no Brasil é tamanha que ABT, Abemd e outras entidades criaram um "comitê interassociativo" para debater o tema.
Uma das preocupações do comitê, que opera hoje "em alerta vermelho", é manter um funcionário em Brasília para mostrar aos parlamentares que telemarketing não é só o operador muitas vezes inconveniente que quer vender produtos ou serviços, mas uma parte relevante da economia.

Listas-piloto
O que muitos não sabem, contudo, é que já há duas propostas de lista antitelemarketing no país -uma vem das empresas do setor, e a outra, do Legislativo de Porto Alegre.
A primeira é a base de dados "Não Quero Receber Ofertas", que vem sendo planejada desde 2001 pela Abemd e deve estrear ainda em agosto, diz o presidente da associação, Efraim Kapulski.
O sistema, em fase de testes, permitirá que qualquer pessoa se inscreva por internet, correio ou telefone para não receber ofertas dos 420 filiados à entidade.
Ao contrário do que muitos imaginam, Kapulski diz que não deve receber muitos pedidos de adesão. "Há diferença entre poder ser excluído dos bancos de dados de marketing e querer ser excluído. Acho que as pessoas só desejam o direito de escolha", avalia.
O associado que não respeitar o cadastro receberá advertências, mas não multa. Não podem se inscrever pessoas jurídicas. Além disso, quem é cliente de uma empresa não pode se negar a receber chamadas daquela companhia.


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