São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002


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Projetos inicialmente vistos com ceticismo podem virar "zebras" e obter sucesso

Empresa vai para a frente contra a maré

FREE-LANCE PARA A FOLHA

No começo, poucos, além do empresário, apostariam no sucesso. Às vezes, nem a sua própria família. Mas muitos negócios contrariam todas as lógicas da administração e vão para a frente.
Viajar só para comer uma pizza, contratar um assessor funerário ou comprar um sapato em uma loja com nome de aviário? Se, em teoria, o ponto, o nome ou o conceito parecem inadequados para atrair clientes, na prática, atendimento especial e produtos diferentes podem surpreender.
Muitas dessas iniciativas despontam quando um empreendedor se antecipa a uma tendência, explica André Giglio, 32, sócio-diretor da Francap (consultoria).
"Em vez de esperar o mercado crescer, ele o faz", explica. "É o caso de um produto novo ou de uma tecnologia inédita", afirma.
Fernando Dolabela, 57, consultor de empreendedorismo, pondera que nem sempre um consultor especializado acerta na mosca ao avaliar a viabilidade de um negócio em planejamento.
Ele atenta para um outro aspecto da questão: conta muito o potencial do profissional que está no comando do empreendimento. "Quem não dá certo às vezes é o empreendedor. A idéia poderia vingar nas mãos de outra pessoa. É uma forma de olhar", define.
E mesmo a visão de um especialista pode sofrer ilusões de ótica. Assim, se pudesse voltar no tempo, o próprio Dolabela desaconselharia Bill Gates, hoje principal executivo da Microsoft, a entrar no mercado da computação.
"Eu diria: deixe de ser doido, não vá competir com a IBM."

Contrariando a expectativa
O segredo do sucesso geralmente está em um diferencial. "Se o negócio vai para a frente, é porque tem alguma coisa de especial", avalia Marcelo Aidar, 39, professor de empreendedorismo e de novos negócios da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas).
O consultor Rogério Chér, 34, comprovou a tese dentro da própria casa. Quando sua mãe montou, com uma sócia, uma pequena indústria de bijuterias, ele desconfiou. "Elas eram donas-de-casa, sem experiência empresarial, trabalhando com um produto que não conheciam bem."
E por que deu certo? "Na idéia da concepção, não havia acessórios equivalentes no mercado", analisa. "E existiam clientes potenciais. Elas sabiam em que portas deviam bater. Além disso, buscaram orientação administrativa e financeira especializada."

Lição dos grandes
Há empreendedores que contrariam uma lógica aparente, mas, na verdade, é como se vissem além da ponta de um iceberg.
Em 1973, em plena crise mundial do petróleo, Antonio Claudio Resende, 57, e um sócio resolveram investir em uma locadora de veículos. Por trás da "maluquice", porém, havia um plano de ação muito bem estruturado, diz ele.
"A idéia surgiu quando eu tinha 17 anos", conta. "Para pagar meu primeiro carro, comecei a alugá-lo para os amigos." Quando estava para montar o negócio, havia até a perspectiva de falta de gasolina no país. "As pessoas e as empresas tinham medo de comprar carros", lembra Resende. "A alternativa, então, era alugar."
Os melhores resultados da empresa, até hoje, foram em situações econômicas desfavoráveis, afirma o empresário. A Localiza começou com seis Fuscas, e atualmente conta com 30 mil veículos.
(EDSON VALENTE)


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