São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002


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Locais como Sujinho e Galinha Morta superam estranheza com diferenciais

Cliente releva até os nomes esdrúxulos

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Sem nenhuma outra informação, baseando-se apenas no nome, quem normalmente se arriscaria a comer em um restaurante chamado Sujinho? Ou procuraria roupas na Galinha Morta?
Uma marca serve como cartão de visitas do negócio. Mas essa apresentação nem sempre busca cativar os clientes pela beleza ou por realçar aspectos positivos do estabelecimento. Pelo contrário: pode causar estranheza. Mas nem por isso é sinônimo de fracasso.
Há 20 anos, Afonso Rocha, 39, comprou o ponto onde fica o Sujinho, na avenida Consolação, região central da cidade. "Já era relativamente famoso", conta. "Vários artistas que se apresentavam no Teatro Record [que ficava ali perto] o frequentavam."
O mais curioso é que foram os próprios clientes que acabaram batizando o local. "Ele sempre teve cara de antigo", explica Rocha. E provavelmente nenhum frequentador o conhece pela razão social, Super Quente Lanches.
O segredo do sucesso? O empreendedor diz trabalhar "com qualidade, preço bom e atendimento carinhoso". "É o lar fora de casa. A atratividade reside no fato de ter se tornado folclórico."

Granja?
A rede Galinha Morta não é um aviário. Muito menos funerária de "penosas". Com esse nome, é difícil imaginar que se trata de loja de calçados, bolsas e acessórios.
Tudo começou há dez anos, quando Léa Shuster, 54, montou uma ponta de estoque no bairro do Bom Retiro, centro de São Paulo. "Vendia oportunidades, lotes a preço de banana", conta.
Um cunhado deu a idéia da designação, uma expressão antiga, que equivale a "negócio da China": preço de "galinha morta". "Chama a atenção", afirma Shuster. "As pessoas estranham, mas acabou se tornando característico de um estabelecimento que trabalha com modelos bem modernos e um preço lá embaixo", avalia.
A história da rede, hoje com cinco pontos, confirma a tese de que nem mesmo um nome esdrúxulo atrapalha um diferencial de negócio. Segundo sua proprietária, a Galinha Morta foi a pioneira no comércio de calçados no bairro.

Morbidez indispensável
A qualificação de Phoenix Assessoria ao Funeral poderia soar muito atrativa para a Família Addams. Mas quem diria que um novo conceito de negócio tão mórbido iria prosperar?
Quando um shopping center explodiu em Osasco, em 1996, o empresário Oscar Machado, 32, ficou sem seu restaurante.
Sensibilizado pela dor de quem havia perdido familiares no acidente, Machado se disponibilizou a ajudá-los com os procedimentos dos funerais. E fez disso um ganha-pão, mesmo com o voto contrário de sua mulher.
"Passei madrugadas definindo a estratégia de constituição do negócio", lembra. "Visitei empresas, estudei tanatologia [parte da medicina que se ocupa da morte]."
Ele calcula em 40% ou 50% a economia que seus clientes fazem quando o contratam. "Um funeral envolve pelo menos 15 profissionais. Esse número pode chegar a 80. Providencio tudo, do bufê à locação de veículos."
Multinacionais que operam no Brasil o procuram para cuidar de executivos estrangeiros que morrem no país. Machado acompanha os corpos até sua terra natal.
Entre os serviços que oferece, estão a reconstituição física de indivíduos que sofrem acidentes fatais e a maquiagem dos cadáveres. (EDSON VALENTE)


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