São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004


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POPULAR/CHIQUE

Para ganhar clientes, negócios que só miravam em uma classe social redirecionam foco

Empresas adaptam sua "vocação"

BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Cobrar R$ 10 para que o cliente pratique golfe por meia hora ou vender sushi dentro do Sacolão da Vila Madalena são propostas de empresas que querem popularizar produtos e serviços tradicionalmente vistos como chiques e inacessíveis ao grande público.
Na outra ponta, com mira no ápice da pirâmide social, negócios como açougues e padarias rebatizam-se de butiques, investem em atendimento personalizado e conquistam espaço, ao lado de grifes badaladas, em shopping centers voltados para a classe A.
Transformações desse tipo são arriscadas, avisam consultores, justamente por exigirem a criação de hábitos de consumo. Podem dar muito certo, no entanto, se o empresário conhecer bem o perfil dos clientes que pretende atingir e promover as adaptações necessárias.
Foi o que ocorreu, por exemplo, com as comidas árabe e chinesa, que, depois de virar fast foods, puderam baixar os preços e conquistar maior fatia da população.
Dono do Sushi do Sacolão, restaurante japonês instalado ao lado de uma peixaria no Sacolão da Vila Madalena, Alexandre Moura, 33, trabalha para que o sushi seja tão popular quanto a esfiha. "Estamos sempre lotados", revela. Aos sábados, o público que compra na feira fica para almoçar.
Embora aposte no rodízio, o restaurante também oferece opções à la carte, com porções de oito sushis a partir de R$ 4,50. Segundo Moura, a estrutura simples viabiliza o preço baixo. "A idéia é popularizar mesmo. As mesas são de plástico, e o sushiman é o meu sócio. Os produtos são de primeira, mas quem busca no Ceasa somos nós, os donos", descreve.

Menor que a bolinha
Jacques Wladimirski, 43, dono da academia Golf & Gym, localizada na Barra Funda (zona oeste de São Paulo), espalhou 50 outdoors pela cidade para dizer que é possível experimentar o jogo escocês por um preço "menor do que a bolinha [de golfe]". Um jogador de futebol e uma universitária aparecem no anúncio.
Por R$ 10, o cliente "ganha" um taco emprestado e esvazia um balde com 60 bolinhas. Por R$ 35, faz uma aula de 30 minutos. "Já estou atingindo a classe média."
Pegando carona na popularização do tênis, que multiplicou seus adeptos após o "efeito Guga", as empresas de golfe buscam mostrar que também têm preços acessíveis. "Você pode ter todo o equipamento gastando o mesmo que para jogar tênis", diz César Marques, 46, dono da loja Brasil Golf.
Instalada na Vila Nova Conceição (zona sul de São Paulo), a Brasil Golf -considerada pelos proprietários como "a Daslu do golfe"- tem observado mudanças nos últimos três anos. "Só quem é golfista conhece a gente. Mas nossos negócios hoje dependem mais de pessoas de classe média alta do que de quem tem altíssimo poder aquisitivo", diz Marques.
Entre os projetos do empresário para popularizar o esporte, está a colocação de simuladores de golfe virtual em shoppings da cidade, com a ajuda de grandes empresas patrocinadoras. "Com simulador, as pessoas vão experimentar. Vamos quebrar o gelo."

Comida com grife
Franqueado da Red Angus Beef há um ano e meio, o piloto de avião Fábio Varella apostou há seis meses em sua segunda butique de carnes -dessa vez no Shopping Villa-Lobos. Cortes diferenciados e gado certificado são as principais armas para conquistar o público classe A. "O preço é mais alto do que em um açougue comum, mas é proporcional à qualidade", aponta Varella.
Já nas padarias, o processo de transformação, que começou nos anos 90, agora ganha força com o excesso de estabelecimentos e com a concorrência dos supermercados. Mais bonitas, as lojas têm vitrines e se aproximaram das "delicatessens". A faceta fashion das padarias ganhou até um ambiente na última edição da Casa Cor em São Paulo.


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