São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002


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Parte do terceiro setor rejeita conceitos "comerciais" do franchising, como a busca de resultados

Sistema ainda enfrenta resistência

DA REDAÇÃO

Mesmo com a disseminação do conceito de franquia social entre ONGs e empresas do setor privado, ainda não é possível dizer que se trata de um mecanismo já amplamente aceito no terceiro setor. Entre as dificuldades apontadas, está a resistência de algumas instituições à introdução do franchising no segmento social.
"Sobretudo para entidades mais antigas, falar em marketing ou franquia é o mesmo que citar satanás", compara Fernando Credidio, da Parceiros da Vida. O problema mais grave é a confusão entre os termos utilizados nas franquias comerciais e os empregados no modelo social.
"Existe um paradigma por parte das pessoas que pensam que franquia é sinônimo de hambúrguer. Mas, se dá para multiplicar hambúrgueres que fazem dinheiro, por que não utilizar o conceito para fazer o bem?", indaga a consultora Ana Vecchi. Para desfazer a dúvida do apelo comercial das franquias, foram criadas novas terminologias, como a substituição de "lucro" por "resultado" ou "benefício social".
"A franquia é um meio, não um fim. É uma ferramenta de negócios para expandir produtos e serviços, e as ONGs se encaixam perfeitamente nesse perfil", acrescenta Eduardo Gomor dos Santos, consultor do Grupo Cherto (consultoria de franchising).
Defensora da propagação de franquias sociais no país, a empresária Viviane Senna condena o "preconceito" com a nova ferramenta. "Se a caridade não resolveu o problema do país em 500 anos, não é agora que vai fazê-lo. Por isso é importante construir uma tecnologia mais adequada."

Saia-justa
A utilização dos recursos financeiros, sobretudo numa metodologia em que são cobradas taxas de serviços e mensalidades para manutenção dos projetos, é outro empecilho para a aceitação sem restrições das franquias sociais.
"O que deve ficar claro é que o franqueado não vai ter lucro, e que esse não é o objetivo", alerta Guilherme de Farias Shiraishi, 25, que criou um plano de negócios para o Projeto Curumim (lojas que vendem itens de ONGs).
"A obrigação do lucro existe, mas não o financeiro, pois o que for superávit deve ser reinvestido no próprio sistema", explica Eduardo Gomor dos Santos.
Para alguns, o próprio conceito de franquia social apresenta desvantagens, como a dependência, às vezes exagerada, da franqueada em relação à ONG "matriz".
"Ter de cumprir as regras da franqueadora e até enviar recursos para ela dificulta, ainda mais no começo. Sem contar que as empresas estão diminuindo de tamanho, o que torna difícil conseguir espaço para franquias", diz Carmen Cabral Franco, da Empresa & Programa Educar (profissionalização de jovens), originada de uma franquia social.


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