São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002


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Dólar deixa empresários em alerta

DA REDAÇÃO

Incertezas eleitorais no Brasil, crise argentina e descoberta de fraude na WorldCom, segunda maior operadora de telefonia americana, deixaram o mercado financeiro ainda mais instável na última semana. No pior dia, quarta-feira, o dólar bateu novo recorde desde o início do Plano Real, em 1994, sendo cotado a R$ 2,88.
Esse nervosismo atinge, direta ou indiretamente, empreendedores de todos os portes. Para quem não tem dívidas na moeda americana nem trabalha com importados, a preocupação pode ser menor, mas especialistas alertam que os reflexos acabam chegando.
"O aumento de insumos importados, que compõem produtos comercializados ou usados como matéria-prima, afeta primeiro o empresário", diz Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
"Por outro lado, como o mercado nacional não está favorável, ele não tem como repassar esse aumento para o consumidor, senão perde competitividade", emenda.
Para Oliveira, o momento não é propício para investimentos. "As taxas de juros não subiram, mas os bancos estão prometendo elevá-las. Isso mexe com as linhas de crédito, pois as instituições financeiras ficam mais seletivas."

Instabilidade
"O mercado está extremamente nervoso. Cada acontecimento pode alterar tudo, e a variação pode ser grande. Principalmente porque o volume de negociação na Bolsa é reduzido, e qualquer pequeno volume provoca um grande efeito", analisa William Eid Júnior, 45, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Eaesp-FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas).
Mas investidores externos não devem cancelar seus projetos com o Brasil, acredita José Rizzo Hahn, 35, diretor-presidente da Pollux, que desenvolve tecnologia. "Novos investimentos estão aguardando passar essa tensão. Mas, conversando com empresários de multinacionais, obtive um retorno positivo quanto a projetos já em andamento", afirma.
A Pollux, por exportar tecnologia para o México e também ter dívidas assumidas em dólar, conhece os dois lados da situação. "Exportamos há um ano e meio e estamos bem capitalizados, o que vai nos ajudar a atravessar o momento de oscilação. Porém, temos dívidas em dólar. Nossas vendas na moeda estrangeira funcionam como um 'hedge' [proteção cambial], já que compensam as perdas", afirma Hahn.

Made in Brazil
De acordo com Fernando Ribeiro, 33, economista da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), "o momento é favorável para quem tiver planejado exportar há alguns meses, pois vai ter rentabilidade maior que a esperada. Mas o fato de o câmbio ter subido não significa que a exportação vá crescer".
Eid Júnior, da Eaesp-FGV, concorda. "As pessoas têm a ilusão de que exportação depende da taxa de câmbio. Nossa exposição internacional não mudou com o Plano Real, por exemplo. O que modifica isso é um programa de incentivo ao exportador."
A situação deve ficar intranquila até as eleições, calculam os analistas. "O valor do dólar está fora do real, que é de R$ 2,50. O preço vai cair com a melhor definição do quadro eleitoral", diz Oliveira.


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