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Guerra solar entre EUA e China

Políticas verdes em Pequim concorrem com as dos EUA

Por KEITH BRADSHER

HONG KONG - Os Estados Unidos e a China se preparam para travar uma guerra comercial por causa da energia solar.

Em 9 de novembro o Departamento do Comércio dos EUA abriu uma investigação a pedido de fabricantes americanos que acusam os chineses de fazer "dumping" de painéis solares nos EUA, vendendo-os a preços abaixo do custo de fabricação e distribuição, ajudados por subsídios de bilhões de dólares do governo chinês.

Na liderança do pedido está a SolarWorld Industries America, unidade da fabricante alemã SolarWorld. Seis outras empresas assinaram o documento, mas com identidades em segredo.

Um grupo setorial chinês acusou a Casa Branca de transformar a queixa comercial em "uma farsa política, que é muito provavelmente um show de publicidade iniciado pelo governo Obama para a próxima eleição".

A questão dos painéis solares tem grande peso político em Washington, em parte por causa da recente falência do fabricante de painéis solares Solyndra, depois que recebeu mais de US$ 500 milhões em empréstimos federais.

O uso da energia solar está aumentando rapidamente nos Estados Unidos, mas os fabricantes de painéis solares chineses têm crescido ainda mais depressa, elevando sua participação no mercado para mais da metade hoje, contra quase nenhuma cinco anos atrás.

Ao unir questões complexas como política industrial, criação de empregos e mudança climática, a disputa sobre os painéis solares poderá ser o caso comercial de maior peso político em muitos anos, rivalizando com o caso jurídico de Detroit contra os fabricantes de carros japoneses em 1980.

A energia solar contribui com apenas um décimo de 1% da eletricidade americana, mas a quantidade de nova potência solar instalada no país cresceu mais de 70% ao ano desde 2008, segundo a GTM Research, uma consultoria de análise de mercado de energias renováveis em Boston.

Os fabricantes que pediram a investigação pretendem que sejam impostas tarifas de mais de 100% aos painéis solares chinês.

Seja qual for a ação adotada pelo governo americano, poderá ser tarde demais para salvar a indústria de painéis solares americana. A China, cujo governo é um grande promotor de empresas de energia verde, já representa três quintos da produção mundial de painéis solares, dando-lhe enormes economias de escala.

E ela exporta 95% de sua produção. Isso ajudou a reduzir acentuadamente o preço dos painéis solares no atacado -para US$ 1 a US$ 1,20 por watt de capacidade, contra US$ 3,30 em 2008.

Além da Solyndra, duas outras companhias americanas que juntas representavam um sexto da capacidade de produção de painéis americanos faliu em agosto, enquanto quatro outras demitiram e cortaram a produção.

Em 2 de novembro o presidente Obama citou "práticas competitivas questionáveis por parte da China" no setor de energia limpa.

Isso levou à declaração de "farsa" feita pela Associação de Indústrias de Energia Renovável da China, controlada pelo governo. Os fabricantes americanos "tentam transferir a responsabilidade pelo fracasso do desenvolvimento da energia limpa nos EUA, especialmente a responsabilidade pessoal do presidente Obama, para as companhias de células solares chinesas", disse o grupo.

O Departamento do Comércio dos EUA deverá emitir uma decisão preliminar sobre a alegação de "dumping" até o final de março, e sobre a alegação de subsídios no máximo até meados de maio. Muitos especialistas do setor esperam que a decisão inclua tarifas elevadas sobre as importações.

As indústrias chinesas perderam quase todos os casos de dumping e subsídios em décadas.

A maioria dos grandes fabricantes chineses de painéis solares tem subsidiárias nos EUA que são importadoras legais, por isso elas cobririam os custos iniciais e tarifas. Mas esses custos seriam passados para os consumidores; de outro modo, as companhias chinesas poderiam se encontrar vulneráveis a mais penalidades.

O anonimato exercido por seis dos fabricantes que fizeram o pedido anti-dumping poderá ajudar a aliviar os temores de retaliação do governo chinês, que poderia lhes negar vistos ou acesso ao mercado chinês.

Mas o sigilo também dificulta que os advogados da indústria chinesa descubram se aquelas companhias receberam subsídios do governo americano.

Li Junfeng, presidente do grupo setorial chinês e também um vice-diretor da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, a principal agência de planejamento econômico da China, disse que os dois países devem trabalhar juntos para reduzir o custo da energia solar, em vez de se envolver em conflitos comerciais.

Li disse que os subsídios das empresas chinesas não chegam perto dos da Solyndra. "Todos eles são de US$ 10 milhões ou menos", e essas quantias são relativas sobretudo a 2005 e 2006, ele disse.

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