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Lina Ben Mhenni

Blogueira espelha a gênese da Primavera Árabe

Por KRISTEN McTIGHE

TÚNIS - Ela sentiu a fumaça ardida do gás lacrimogêneo pairando nas ruas, e viu policiais atirando em manifestantes. Assistiu a famílias chorando sobre os corpos ensanguentados dos seus entes queridos.

Dez meses atrás, a violência na Tunísia, ao invés de calar Lina Ben Mhenni, a fez falar em tom mais alto e claro.

"Era perigosíssimo ser blogueira sob [o governo de Zine el Abidine] Ben Ali", disse a blogueira e ativista Ben Mhenni, 27. A rebelião popular contra o regime foi o estopim da chamada Primavera Árabe.

"É claro que eu tinha medo, mas quando eu vi gente sendo morta pela polícia eu esqueci o medo, e ele me deu força para fazer meu trabalho."

Ben Mhenni é um exemplo de como os manifestantes ajudaram a acabar com o estrangulamento do regime sobre os meios de comunicação, e a acelerar a revolução que derrubou uma ditadura de 23 anos.

A blogueira, hoje professora de linguística na Universidade de Túnis, começou a escrever seu blog em 2007, ano em que sua mãe lhe doou um rim para substituir o que havia sofrido falência dois anos antes. Seis meses depois daquela cirurgia, ela competiu nos Jogos Mundiais para Transplantados. (Voltaria a competir em 2009, quando ganhou duas pratas na marcha atlética.)

No blog "Uma Garota Tunisiana", ela escrevia sobre censura, direitos femininos, direitos humanos e liberdade de expressão. Logo se viu em atrito com o governo, que bloqueou seu site. Usou "proxies" para acessar suas páginas, até que em abril de 2010, segundo ela, a polícia fez buscas na casa da sua família.

"Levaram meu computador, minhas câmeras, tudo o que era meu", disse ela.

Em 17 de dezembro de 2010, ela soube que um vendedor de frutas em Sidi Bouzid, chamado Mohamed Bouazizi, havia se imolado num protesto contra o confisco das suas mercadorias e as constantes intimidações por parte de autoridades e policiais. Ben Mhenni contou isso no blog, no Facebook e no Twitter.

Em 25 de dezembro, ela participou da uma manifestação realizada na capital após a morte de Bouazizi, e colocou artigos e fotos nas mídias sociais.

No começo de janeiro, Ben Mhenni foi às cidades de Sidi Bouzid, Regueb e Kasserine, onde a reação das forças de segurança aos protestos havia sido violenta. Ela tirou fotos dos mortos e feridos, e as colocou na internet.

Estava claro que os protestos não iriam parar. "O movimento social foi espontâneo", disse Ben Mhenni. "Não havia nenhum partido político. Eram só tunisianos. As pessoas estavam com raiva." Ben Ali fugiu da Tunísia em 14 de janeiro. A censura foi suspensa.

Thameur Mekki, jornalista do site TeKiano.com que foi colega de Ben Mhenni em uma campanha anterior contra a censura, disse: "O que ela fez foi romper com o apagão midiático que a imprensa alinhada a Ben Ali havia imposto durante a revolução".

Laetitia Matiatos, diretora da novas mídias da organização Repórteres Sem Fronteiras, afirmou que "blogueiros como Lina Ben Mhenni e Astrubal, do blog Nawaat, tiveram durante a revolta tunisiana um papel importante em difundir a informação para o mundo, usando VPNs e proxies".

Ben Mhenni ressaltou, no entanto, que as mídias sociais tiveram um papel importante na revolução tunisiana, mas não a desencadearam. "Talvez no Egito o chamado tenha começado nas mídias sociais", disse ela.

"Mas aqui tudo começou no terreno. Mohamed Bouazizi ateou fogo ao seu corpo e todos começaram a se manifestar. As mídias sociais não iniciaram a revolução. Foram apenas uma ferramenta que ajudou."

"O movimento social foi espontâneo. Eram só tunisianos. As pessoas tinham raiva."

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