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Disney deixa os Muppets serem eles mesmos

Por BROOKS BARNES

LOS ANGELES - David Hoberman, um dos produtores do novo filme "Os Muppets", da Disney, podia visualizar a empresa mandando entregar um caminhão cheio de pesquisas de mercado com conclusões como: precisa ser bonitinho e fofinho (para agradar às mamães), corajoso e incluir skates (para atrair os meninos) e ter formato quadrado (para ser mais fácil de empilhar nas lojas de brinquedos).

Não aconteceu. Segundo Hoberman, que é também um ex-presidente da Walt Disney Studios, a empresa falou apenas "simplesmente faça um bom filme". Nicholas Stoller, que ajudou a escrever o roteiro, confirmou sua versão. "Houve espantosamente pouca interferência", disse Stoller. "O filme acabou sendo bastante estranho, de um jeito bacana".

Numa recriação das façanhas que levaram "The Muppet Show" a seduzir toda uma geração de telespectadores, o novo filme inclui frangos dançantes, um vilão rapper (representado por Chris Cooper) e um quarteto numa barbearia que harmoniza "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana.

"Os Muppets" foi lançado nos Estados Unidos em 23 de novembro e vai estrear no resto do mundo até fevereiro. A Disney acha que o filme tem potencial para ser um blockbuster. Custou menos de US$ 50 milhões.

Mas é impossível saber se os bonecos vão agradar ao público da era da animação digital da Pixar.

A Disney vinha tentando decidir o que fazer com a família de desajustados de feltro criada por Jim Henson. No passado superastros internacionais, os Muppets de Henson passaram 32 anos sem fazer um grande sucesso.

O que é certeza é que "Os Muppets" é um exemplo raro de um comitê corporativo abrindo mão de atrapalhar e deixando o pessoal criativo assumir a liderança. Houve momentos, é claro, em que a Disney tentou carregar o filme de bagagem sinérgica.

"Em uma reunião, alguém perguntou, com toda seriedade, que parte do roteiro daria o melhor brinquedo de parque temático", contou Jason Segel, que escreveu o filme e atua nele. Mas os executivos, por terem suas atenções voltadas na época a uma reestruturação dolorosa do estúdio, não mexeram no filme, permitindo que fosse esdrúxulo e divertido.

Dirigido por James Bobin, diretor estreante no cinema mas que já tinha créditos na televisão, o filme acompanha um casal de uma cidade do interior (Amy Adams e Jason Segel) que leva o jovem Walter -que não tem consciência do fato de ser um Muppet, ele próprio- a Los Angeles para visitar o antigo estúdio de Caco, o Sapo. Quando descobre que um magnata petrolífero malévolo vai demolir o estúdio, Walter ajuda a encontrar Caco e sua equipe (o urso Fozzie está fazendo comédia em Reno, Nevada, e Scooter está trabalhando na Google) para um show de variedades feito para levantar fundos para o estúdio.

O filme mostra novamente as criações mais famosas de Jim Henson, incluindo Gonzo, o Cozinheiro Sueco, Animal, Beaker, Statler e Waldorf. Mas o herói é mesmo Walter, um sujeitinho tímido, de voz esganiçada, cuja falta de autoconfiança se manifesta em seus ombros caídos e seu hábito de ficar olhando para o chão. No entanto, basta levar Walter para perto de um Muppet para ele se iluminar e vibrar.

"Quisemos um personagem simples, que fosse pura inocência e entusiasmo, para apresentar os Muppets às crianças que talvez não os conheçam tão bem quanto seus pais", explicou Stoller.

No roteiro, Walter era descrito como o irmão menor, adotado, do personagem de Segel. "Queríamos que ele se sentisse deslocado no mundo humano, então sabíamos que ele teria que ser pequeno", comentou Stoller.

Os roteiristas não deram detalhes sobre sua aparência, exceto por dizer que Walter usava roupa azul e tinha o ar de um "pano de prato velho", falou Paul Andrejco, presidente do Puppet Heap Workshop, o ateliê de Hoboken, Nova Jersey, que fabricou Walter.

Andrejco disse que desenhou vários Walters diferentes -magro, gorducho, mais humano, mais animal- e mostrou 14 versões diferentes aos produtores.

O Walter pronto, ele contou, guarda notáveis semelhanças com Caco, pelo menos em sua funcionalidade. Seu rosto, uma cor alaranjada que lembra Ernie, de "Vila Sésamo", foi feito para ser flexível, para que pudesse expressar uma gama de emoções. Walter não ganhou um nariz, mas tem cabelos castanhos despenteados.

O passo seguinte foi a escolha do elenco. Seis bonequeiros foram cogitados nos testes. O papel acabou ficando com Peter Linz, de 44 anos, fala mansa e extensa experiência com o "Sesame Street".

Linz chamou a atenção dos diretores durante leitura do roteiro. Ele estava presente para ajudar Eric Jacobson, veterano dos Muppets que já fez vários personagens, incluindo Miss Piggy e Sam, a Águia. "Eu não pensei que estivesse sob consideração", disse.

Como "Os Muppets" é um musical, os diretores pediram para Linz e Segel cantarem karaokê. "Nos fizeram cantar 'Love Will Keep Us Together', contou Linz. "É incrível, não?"

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