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'Mona Lisa' revela técnica de Da Vinci

Por SUZANNE DALEY

MADRI - Até pouco tempo atrás, a cópia de "Mona Lisa" no museu do Prado -uma de dezenas de cópias feitas ao longo dos séculos- não era uma grande atração da instituição.

Nos últimos dois anos, porém, Ana González Mozo, pesquisadora do departamento de documentação técnica do museu, vem empregando técnicas modernas diversas -radiografias, reflectografia infravermelha e imagens digitais em alta resolução- para fazer e documentar uma descoberta improvável.

O que se descobriu foi que a "Mona Lisa" do Prado não é uma cópia qualquer de 500 anos atrás: é altamente provável que tenha sido pintada por alguém que estava sentado ao lado de Leonardo da Vinci, procurando reproduzir cada pincelada do mestre. Quando Da Vinci ajustava o tamanho da cabeça de "Mona Lisa", corrigia suas mãos, deixava seu busto mais esbelto ou abaixava seu decote, quem estava pintando a Mona Lisa do Prado fazia o mesmo.

"Só pode ter sido pintada ao mesmo tempo", disse González. "Uma pessoa que copia não faz correções, porque nunca viu as alterações. Essa pessoa enxerga apenas a superfície da pintura."

A descoberta é importante principalmente pelo que revela sobre a verdadeira "Mona Lisa", que foi escurecida por camadas de laca envelhecida. A cópia, agora restaurada, exibe detalhes que estão obscurecidos na tela original. Por exemplo, mostra um descanso para braço, sendo que não há descanso visível no original, e os reflectógrafos revelam uma imagem mais clara da cintura da mulher.

"O que é realmente importante na cópia é que ela nos permite ver como Leonardo trabalhava", disse González. "Sabemos algo novo sobre seu processo criativo."

A cópia, que também mostra uma figura de aparência muito mais jovem, voltou a acender a discussão sobre a conveniência ou não de ser restaurada a "Mona Lisa" de Da Vinci. González disse que as pessoas estão acostumadas à aparência atual da tela.

Até dois anos atrás, o Prado, que herdou a cópia com o restante da coleção real em 1819, a exibia, mas nunca desconfiou de sua importância. O pano de fundo da cópia era preto e a pintura era coberta por uma camada de verniz escuro com um brilho amarelado.

Mas o Louvre planejava uma exposição especial da obra de Da Vinci e, por não querer deslocar a "Mona Lisa" original de sua área protegida, queria emprestar a tela do Prado para tomar seu lugar. Um comentário de um dos curadores do Louvre, indagando se a cópia já tinha sido estudada, despertou a curiosidade de González.

No dia seguinte, ela levou sua câmera infravermelha à galeria. Bastaram as primeiras fotos para fazê-la concluir que as duas telas tinham sido produzidas ao mesmo tempo. A descoberta possivelmente mais instigante foi que o pano de fundo original da pintura tinha sido escurecida por uma camada de tinta preta, uma prática comum no século 18. Uma vez removida a tinta negra, surgiu o mesmo fundo toscano que o da tela de Da Vinci, oferecendo uma prévia do que poderia ser visto se a "Mona Lisa" de Da Vinci fosse restaurada.

Não há dúvida de que a pintura do museu do Prado não foi feita pelo próprio Leonardo. Embora as correções sejam idênticas, as linhas não são. Resta saber por que a tela foi feita. Pode ter sido para a instrução de um aluno ou uma encomenda dupla. "A questão fascina a imaginação das pessoas", disse González.

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