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Na TV francesa, debates chiques e agressivos

Por ELAINE SCIOLINO

PARIS - Os franceses levam "le talk show" muito a sério. O confronto de ideias faz parte da identidade nacional francesa há séculos, e o intelectual -praticamente qualquer pessoa que tenha ar de seriedade e possua a autoconfiança para opinar sobre qualquer tema em três pontos- goza de um status especial na sociedade e ocupa um lugar de destaque na televisão.

"Para vocês, americanos, o esporte nacional é o futebol; para nós, franceses, é o debate", disse o colunista, romancista, ensaísta e roteirista Philippe Labro, cujo programa "Langue de bois s'abstenir" é transmitido nas noites de quarta-feira pelo Direct 8. "Falamos, criticamos, argumentamos. Pedimos a você que compartilhe sua história e depois tentamos destruí-lo."

Houve uma época em que "le talk show" era sinônimo de "Apostrophes", um bate-papo ao vivo no horário nobre entre um autor e o famoso apresentador Bernard Pivot.

Uma participação no programa, que ficou no ar por 15 anos, até 1990, era capaz de converter a obra de um escritor em sucesso instantâneo de vendas.

Hoje, mais de 20 talk shows competem nas redes nacionais, na TV a cabo e on-line, com níveis muito diferentes de cortesia e combatividade.

Muitos desses programas valorizam especialmente algo que o consultor Alain Minc, assessor ocasional do presidente Nicolas Sarkozy, considera ser a marca registrada do verdadeiro intelectual: "a superficialidade profunda".

Intimidar os outros convidados antes de o embate começar é apenas o esperado. "Por que a senhora está aqui, madame?" perguntou um filósofo de longa data na televisão a uma jornalista americana que fazia sua estreia em um programa.

Alguns dos programas têm a aparência de outra era. É o caso do respeitável "C dans l'Air" ("Está no Ar"), com Yves Calvi, no ar nas noites de segunda a sexta-feira na France 5. A grande maioria de seus convidados é formada por homens brancos com mais de 50 anos e visões políticas do mainstream (em 2010, mulheres formaram apenas 10% dos convidados).

Outros, como "On n'est pas Couché" ("Não estamos deitados"), de Laurent Ruquier, exibido aos sábados às 23h, destacam o entretenimento.

O caótico "Ce Soir (ou Jamais!)" ("Esta Noite ou Nunca") traz de oito a dez convidados sentados em incômodas cadeiras translúcidas de plástico, iluminadas com luz branca.

Numa noite, foi perguntado a eles se as pesquisas políticas são confiáveis, se os repórteres de guerra são necessários, se o título "mademoiselle" deveria ser extirpado de documentos oficiais e se "O Artista" mereceu tantas indicações ao Oscar.

A agressividade supera a sagacidade. E os convidados que se recusam a entregar o microfone saem ganhando.

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