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As novas fronteiras do esporte

Por CHRISTOPHER CLAREY

ERALDO PERES/ASSOCIATED PRESS
O Brasil vai sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Estrada para Brasília
O Brasil vai sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Estrada para Brasília

Quando a Olímpiada começar em Londres, em julho, com o acendimento da pira olímpica, será o sinal do retorno de um dos maiores eventos esportivos do mundo a um dos redutos tradicionais do esporte mundial.

Será a terceira vez em que Londres sedia a competição -os Jogos já foram realizados na capital britânica em 1908 e 1948- e os campeonatos mundiais de atletismo de 2017 terão lugar no novo estádio olímpico da cidade.

Na realidade, porém, Londres contraria uma tendência.

Os maiores eventos esportivos do mundo estão, pelo menos por enquanto, se afastando de locais tradicionais como Londres e se deslocando na direção de potências e economias emergentes.

"Acho que daqui em diante o maior desafio para as cidades mais maduras será o de definir sua narrativa para fazer frente às narrativas convincentes que estão sendo criadas em outros lugares", ponderou Sebastian Coe, presidente do Comitê Organizador de Londres. "Porque a narrativa que está claramente dominando, no momento, é: esta é uma área em que nunca antes estivemos, esta é nossa chance de realmente criar um legado, de impulsionar o engajamento no movimento e ajudar os jovens a apostar no esporte."

Um estudo feito no ano passado pelo Instituto Dinamarquês de Estudos Esportivos explorou as mudanças no equilíbrio das candidaturas, focando sobre cinco eventos principais: as Olimpíadas de verão e de inverno, a Copa do Mundo de futebol masculino e os campeonatos mundiais de natação e atletismo.

Entre 1990 e 1999, esses grandes eventos foram realizados 16 vezes. Quatorze deles aconteceram em países "ocidentais", o que significa na Europa ocidental, na Austrália e na América do Norte. Dois foram no Japão.

Entre 2000 e 2009, os números foram semelhantes, com 12 dos 16 grandes eventos acontecendo em países ocidentais, dois no Japão e um -Jogos Olímpicos de 2008- na China. Japão e Coreia do Sul sediaram juntos a Copa do Mundo de futebol de 2002.

Mas esta década vai ser muito diferente. O Ocidente vai se tornar participante minoritário no negócio dos grandes eventos.

Numa inusitada vitória dupla consecutiva, o Brasil vai sediar a Copa do Mundo de 2014 e depois as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Serão os primeiros Jogos Olímpicos na América do Sul. A Rússia terá o campeonato mundial de atletismo de 2013 em Moscou, a Olimpíada de Inverno de 2014 em Sochi e a Copa do Mundo de futebol de 2018.

A China sediou o campeonato mundial de natação em Xangai no ano passado e terá o campeonato mundial de atletismo de 2015 em Pequim. A Coreia do Sul sediou o campeonato mundial de atletismo em Daegu no ano passado e em 2018, pela primeira vez, será a sede das Olimpíadas de Inverno, em Pyeongchang.

"Há uma conexão entre o desenvolvimento da economia e o esporte", disse Ricardo Leyser, secretário de esportes de alta performance no Ministério dos Esportes do Brasil. "No Brasil, por exemplo, hoje temos provavelmente dez vezes mais dinheiro e orçamento para os esportes do que tínhamos 20 anos atrás."

A pesquisa dinamarquesa constatou que o mundo ocidental ainda está sediando a maioria dos eventos esportivos globais. Mas vê-se um movimento em direção ao Oriente Médio e à Ásia em circuitos profissionais como a Fórmula 1 e os eventos de tênis e golfe. No fim de abril, o circuito do tênis masculino concordou em eliminar um torneio em San Jose, Califórnia, e criar um no Rio de Janeiro.

Os maiores prêmios, como as Olimpíadas e as Copas do Mundo, podem definir ou redefinir a imagem de um país.

"O impacto dos Jogos Olímpicos sobre a China foi imenso", comentou Michael Payne, ex-diretor de marketing do Comitê Olímpico Internacional. "E o impacto sobre o Brasil será enorme, em termos de destaque no palco mundial e de a comunidade mundial descobrir o Brasil."

Mas o processo de apresentação de candidaturas tornou-se muito mais rigoroso e transparente. "Não é mais possível simplesmente dizer 'tudo bem, vamos construir tudo isso'. A resposta é: 'Ótimo, então nos mostrem que vocês já são donos dos terrenos. Ah, vocês ainda não têm os terrenos? Então como pretendem adquiri-los e o que vai acontecer se alguém fizer objeções?'", disse Payne.

Stratos Safioleas foi consultor das candidaturas olímpicas vitoriosas de Londres e de Pyeongchang e da candidatura de Chicago, que perdeu para o Rio. Agora, ele trabalha com Baku, no Azerbaijão, na disputa pelos Jogos Olímpicos de 2020. As outras candidaturas são de Doha (Qatar), Tóquio, Madri e Istambul. Mas Roma, que já foi sede olímpica no passado, desistiu devido às dificuldades financeiras.

"Quando você avalia tendências no futuro, provavelmente se lembrará de ver o presidente do COI, Jacques Rogge, falar sobre a importância da sustentabilidade dos Jogos", disse Safioleas. "Acho que veremos essa questão ganhar importância cada vez maior nas próximas candidaturas, quando os planos olímpicos vão tentar levar em conta as necessidades futuras da cidade e não vice-versa."

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