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Eleitorado pessimista no México

Por DAMIEN CAVE

GUADALAJARA, México - É basicamente uma batalha -brincam os analistas mais cínicos- entre o Menino Bonito, a Boneca Debutante e o Cansado Já-Era.

Para especialistas, o desprezo que emana dessas descrições comuns dos principais candidatos à Presidência do México reflete a baixa expectativa de um eleitorado que, segundo as pesquisas, está perdendo a fé na democracia, num momento em que o país balança entre o sucesso moderno e o fracasso violento.

Esta é uma nação de feitos conflitantes -de crescimento econômico e cadáveres decapitados. Majoritariamente de classe média, mas assolada pela corrupção, pela impunidade, pela pobreza, pela burocracia, pelos monopólios e por uma cultura de desconforto com o confronto.

Quem vencer em 1° de julho irá herdar um México dividido entre as forças que resistem à mudança e a frustração dos que já começam a esperar mais de seus líderes.

A criminalidade exige atenção. Mais de 50 mil pessoas foram vítimas de homicídios relacionados às drogas desde 2006 e mais de 98% dos crimes ficam impunes, segundo dados do governo.

"O México está numa encruzilhada sobre como lidar com o crime organizado", disse Pamela Starr, especialista em política mexicana na Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA.

"Está bastante claro que o governo precisa absolutamente confrontar o crime organizado e está absolutamente claro que a estratégia do (presidente Felipe) Calderón não funcionou", disse.

O setor petrolífero precisa de reformas para alterar os rumos da estatal monopolista Pemex e atrair investimentos privados.

Acostumada a governos omissos após décadas de um regime de partido único, a maioria do eleitorado nem espera ver muitos desses desafios serem encarados.

Enrique Peña Nieto, 45, o favorito que às vezes é chamado de Menino Bonito, precisa convencer os eleitores de que sua legenda -Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México de 1929 e 2000- está livre da corrupção.

Mas será que ele conseguirá provar que não é apenas um rostinho bonito à frente de um partido historicamente autoritário?

Josefina Vázquez Mota, 51, ex-ministra da Educação do atual presidente, é chamada de Boneca Debutante por estar sempre bem arrumada e sorrindo.

Mas seu Partido Ação Nacional (PAN) está no comando há 12 anos, período de crescimento da violência e de continuidade da corrupção. Será ela capaz de convencer os mexicanos de que representa um rompimento com seu partido?

Para Andrés Manuel López Obrador, 59, ex-prefeito esquerdista da Cidade do México, derrotado por 0,6 ponto percentual na última eleição presidencial, em 2006, o passado compete com o futuro. Mais velho dos candidatos, às vezes chamado de Cansado Já-Era, precisa esclarecer se deixou de lado o populismo radical da disputa anterior para governar como um moderado.

O economista e ex-vice-ministro de Comércio Exterior Luis de la Calle disse que Vázquez Mota e López Obrador só poderiam reverter a vantagem de Peña Nieto fazendo propostas ousadas. "O mexicano médio é bem mais moderno do que os nossos políticos", afirmou ele.

"O mexicano médio está disposto a escutar mais sobre tabus mexicanos, como reformar o setor energético ou realmente mudar o sistema tributário."

A plataforma de Vázquez Mota lembra bastante as promessas de Peña Nieto. Ambos enfatizam a necessidade de um Judiciário mais transparente, da geração de empregos e de melhorar a imagem do México no exterior.

O verdadeiro teste para os três candidatos virá com os eleitores indecisos, que compõem quase um terço do eleitorado, segundo as pesquisas.

O fato de eles irem ou não votar dirá mais sobre o estado da democracia mexicana do que o resultado da eleição.

"Um grande salto à frente", afirmou Starr, "exige que a sociedade mexicana repentinamente passe a aceitar a realidade de que, numa democracia, você tem não só o direito, mas também o dever de responsabilizar seus líderes", acrescentou.

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