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Análise

Mortes e impasse persistem na Síria

Por NEIL MacFARQUHAR

BEIRUTE, Líbano - O cessar-fogo promovido pela ONU não conteve os combates na Síria, nem forçou o governo a retirar suas tropas de bairros civis.

Como o Ocidente ainda endossa, com ceticismo, um plano de paz e o governo sírio está cada vez mais confiante de que irá resistir à fraturada pressão internacional, o resultado é um sangrento impasse. O resto do mundo, temendo o caos que poderia decorrer de uma maior militarização do conflito, continua relutante em armar a oposição.

"Conversei com os britânicos, os franceses, os americanos, a Turquia, todos", disse o político libanês Walid Jumblatt, que apoia a oposição síria. "Todos eles dizem: nada de armas, porque isso vai levar a uma guerra civil, como se agora não fosse uma guerra civil."

O medo de que a Síria seja dilacerada, espalhando o caos na região, ajudou a cimentar uma estagnação que parece funcionar bem para todos, exceto para a oposição síria, que teve centenas de membros mortos desde que o plano de paz entrou em vigor.

O Ocidente, a Turquia e os árabes querem tempo para moldar a oposição como um governo alternativo crível. Eles também esperam convencer a Rússia (principal aliada da Síria) de que o governo é o culpado pela violência.

Os russos querem tempo para que o plano funcione. Tanto a Rússia quanto o Irã desejam também preservar suficientemente o governo para manter suas relações estratégicas, o que pode fazê-los empurrar o presidente Bashar Assad na direção de um compromisso político.

"O que é óbvio e indiscutível é que o plano de Kofi Annan fracassou", disse o senador republicano John McCain, referindo-se ao mediador do plano, enviado especial da ONU e da Liga Árabe. "Assad não respeitou e não vai respeitar um cessar-fogo."

Desde que o governo sírio aceitou o plano, em março, pelo menos mil sírios morreram, segundo McCain. "Os Estados Unidos e o mundo estão desapontando o povo da Síria e, a cada dia que nós nos recusarmos a liderar, mais sírios vão morrer."

Mas os defensores do plano insistem que ele é melhor que a alternativa. "O resultado desejado não é o colapso, uma guerra civil, um Estado falido e um par de décadas perdidas para a Síria", disse Paul Salem, diretor do Centro Carnegie para o Oriente Médio, em Beirute, acrescentando que a crise exige um tempo para elevar a pressão e oferecer uma saída. "Sem a pressão, o regime não vai procurar uma saída, mas sem uma saída eles vão lutar até a morte."

Os partidários também esperam que o aumento dos monitores da ONU, dos cerca de 15 atualmente na Síria para 300 ao longo dos próximos meses, detenha a violência. No entanto, forças do governo sírio têm atacado cidades assim que os monitores se afastam e a oposição acusa o governo de assassinar nove ativistas de Hama que se reuniram com os monitores.

Em 30 de abril, a agência oficial de notícias da Síria relatou uma série de ataques contra prédios do governo, inclusive duas explosões em prédios de segurança na cidade de Idlib (norte), e o disparo de um pequeno foguete contra o Banco Central, no centro de Damasco. A mídia governamental contabilizou nove mortos em Idlib, muitos deles civis, e cem feridos. O Observatório Sírio de Direitos Humanos afirmou no Reino Unido que mais de 20 pessoas morreram em Idlib, a maioria vítima das forças de segurança.

Pública ou privadamente, altos funcionários do governo Obama deixaram claro que Washington pretende empregar sanções, pressão diplomática, um crescente envolvimento com a oposição e a iminente ameaça de processos -todas elas ferramentas à disposição antes da intervenção militar.

Uma ação mais forte por parte do Conselho de Segurança da ONU exigiria a aceitação russa, da qual não há sinal. Embora a chancelaria russa tenha pedido à Síria para "cumprir plenamente suas obrigações", ela continua culpando a oposição pela violência. O chanceler Serguei Lavrov disse no final de abril que a trégua ainda precisa ganhar corpo, "principalmente porque grupos da oposição armada estão se envolvendo em provocações, explosões, ataques terroristas e disparos".

Embora poucos esperem que o plano de Annan dê certo sozinho, seus partidários torcem para que ele crie condições para uma mudança. "Não deposito nenhuma esperança em que Bashar faça algo", disse Louay Hussein, líder de um nascente partido da oposição ainda em Damasco. "Temos de tentar forçar este regime a aceitar a solução política."

Os monitores não vão resolver o problema, disse ele, nem há ainda qualquer esboço para uma mudança pacífica, mas quanto mais os monitores "acalmarem a violência nas ruas, mais veremos ativistas pacíficos emergindo".

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