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Park Geun-Hye

Filha de ex-ditador lidera disputa eleitoral na Coreia

Por MARTIN FACKLER

GONGJU, Coreia do Sul - Quando Park Geun-hye, uma mulher franzina e de porte nobre, desceu do palanque após um discurso eleitoral numa feira livre daqui, alguns espectadores, principalmente pessoas mais velhas, avançaram na direção dela.

Para eles, Park era algo como uma celebridade do cinema, e não a líder de um partido conservador manchado por escândalos, que na época ia mal nas pesquisas.

"Eu toquei na mão dela, eu toquei na mão dela!", gritou o engenheiro aposentado Lee Kyung-su, 72.

Mais tarde, ele tentou explicar por que ela motiva tantas emoções. "Ela vive sozinha, não tem desejos egoístas e não tem família para corrompê-la", afirmou. "Ela se deu ao seu país."

Filha resoluta de um ditador assassinado, solteira buscando o poder numa sociedade firmemente patriarcal, crítica da desigualdade social em um partido devedor das grandes empresas, Park, 60, muitas vezes parece maior do que indica sua pequena estatura.

Agora, depois de comandar o renovado Partido Saenuri (Nova Fronteira; sucessor do governista Grande Partido Nacional) num resultado surpreendentemente bom na eleição parlamentar de abril, ela pode se tornar a próxima presidente sul-coreana, o que faria dela a primeira mulher a ser eleita democraticamente como líder de uma nação nesta parte machista da Ásia.

"Ela é parte Bismarck, parte Evita", disse Ahn Byong-jin, autor do livro "O Fenômeno Park Geun-hye". "Ela quer ser como o seu pai, uma líder forte que cuida da sua gente, mas também tenta ser uma mulher solidária com os problemas das pessoas."

É uma ascensão notável, apesar de ela ter tido a vantagem de receber a formação política do seu pai, o general Park Chung-hee, que governou a Coreia do Sul com mão de ferro por 18 anos, mas também lançou os alicerces de uma das maiores histórias de sucesso econômico da Ásia.

Depois que a mãe de Geun-hye foi assassinada num atentado contra Park, em 1974, ela deixou a pós-graduação que fazia na França e, aos 22 anos, assumiu as funções de primeira-dama, até que Park fosse morto por seu chefe de espionagem, em 1979.

"O maior feito do meu pai foi motivar o povo sul-coreano, mostrar a ele que poderíamos nos tornar prósperos se trabalhássemos com afinco", disse ela em entrevista no ano passado. "Ele me ensinou a amar o meu país e a servir ao meu país."

Os conservadores depositam nela suas nostálgicas esperanças de recuperar um sentido de propósito nacional partilhado, que floresceu na época do pai dela, e de voltar a um tempo mais inocente, antes que o dinheiro começasse a corromper o sistema político.

Para a esquerda, porém, ela está manchada por sua ligação com um dos brutais autocratas militares que aprisionaram ou mataram adversários políticos antes que a Coreia do Sul se tornasse uma democracia, no fim da década de 1980.

Park goza de uma aura quase santificada entre alguns dos seus seguidores, que a veem como uma mulher que deu tudo por seu país, perdendo o pai e a mãe, e depois abrindo mão de casar e ter filhos.

Mas ela com frequência também é vista como aristocrática e distante. Um ex-assessor se queixou publicamente de ser obrigado a segurar o capuz da capa de chuva de Park sobre a cabeça dela.

Seus partidários nas ruas parecem divididos em partes iguais entre mulheres e homens mais velhos. Eles dizem apoiá-la por causa do seu pai.

"Ele nos salvou da fome e colocou roupas sobre as nossas costas", disse o motorista de ônibus aposentado Im Hong-su, 74.

Park tem tentado criar uma imagem mais branda para si mesma, como alguém solidária ao drama dos coreanos mais jovens e ávidos por empregos. Ko Min-hwan, 32, que possui uma loja de pisos em Gongju, disse: "Ela tem até a eleição para mostrar aos jovens eleitores que realmente se interessa em nos ajudar".

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