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Ensaio - Zachary Woolfe

Ópera ao vivo no cinema

Transmissões ao vivo revolucionam o mundo da ópera

Quando você procura seu assento num cinema para assistir a uma das transmissões "ao vivo em HD" do Metropolitan Opera de Nova York, a experiência começa pelo som: o murmúrio instantaneamente reconhecível e imediatamente reconfortante dos instrumentos sendo afinados e do público falando baixinho, vindo diretamente, ao vivo, do próprio Met.

Como diz o Met em seu site na internet: "Depois de estar no próprio teatro de ópera, é a segunda melhor experiência de áudio possível".

A questão é se "a segunda melhor experiência" é boa o suficiente, em se tratando da experiência completa da ópera. O Met lidera uma revolução -mas é uma revolução que não diz respeito ao que é encenado sobre o palco, e sim a como isso é transmitido ao mundo.

A intenção destas observações não é diminuir a importância das transmissões.

Transformando fundamentalmente o modo como as artes cênicas podem ser levadas ao público, as transmissões são a coisa mais importante a acontecer no mundo da ópera desde a chegada das legendas traduzidas, no início dos anos 1980.

A série "Live in HD" começou há seis anos e hoje já chega a 1.700 cinemas em 54 países.

Mas como a experiência de assistir a uma ópera no cinema se compara à produção apresentada ao vivo no teatro de ópera?

Para descobrir a resposta, assisti às 11 transmissões ao vivo feitas a partir do Met para salas de cinema em várias regiões dos Estados Unidos.

Embora a qualidade do som nos cinemas seja excepcional, os microfones não conseguem captar diferenças nas dimensões das vozes.

Mas o lado visual com frequência ganha destaque maior. Por chegar tão perto dos cantores, as transmissões são capazes de criar momentos de grande potência sonora e visual.

Alguns cantores se saem muito bem nos dois formatos, outros -como Renée Fleming, que cantou o papel-título de "Rodelinda"- podem apresentar uma figura elegante e comovente no palco, mas são menos convincentes quando seus olhos precisam transmitir dramaticidade.

Para outros, porém, a nova mídia é uma dádiva.

Quando vi Natalie Dessay no Met em "Lucia di Lammermoor" em fevereiro de 2011, sua concepção radicalmente introvertida do papel me pareceu simplesmente enfadonha e fria. Mais tarde, vista em HD, foi assombrosa.

Se as 17 apresentações da nova produção de "Don Giovanni" nesta temporada tivessem tido lotação esgotada no Met, que tem 4.000 lugares, o público total teria sido de 68 mil pessoas.

Já a transmissão da ópera em outubro foi vista por 216 mil pessoas ao mesmo tempo e o Met previa que outras 50 mil pessoas a assistiriam em sessões posteriores na Ásia, na Austrália, na Nova Zelândia e na África do Sul -e em "reprises" na América do Norte e na Europa.

O número de transmissões hoje equivale a um terço das apresentações de matinê de sábado do Met; o número é limitado pelo custo e pelos desafios logísticos da série. A companhia também reluta em repetir óperas ano após ano.

Com ingressos custando cerca de US$ 20, o programa já começou a dar lucros para o Met.

O programa é fruto da visão de Peter Gelb, o gerente do Met. O resto do mundo das artes não estava preparado para seu rápido sucesso.

Outras companhias de ópera estão começando a explorar a mesma abordagem, mas de modo apenas hesitante.

Entre elas estão: companhias de teatro (como a National Theater, de Londres), de dança (o Balé Bolshoi, de Moscou) e orquestras sinfônicas (como a Los Angeles Philarmonic).

Em algumas das novas produções do Met para esta temporada -"Don Giovanni", "Faust", de Gounod, as óperas do ciclo do "Anel" de Wagner-, a ação muitas vezes parece ser limitada diante de grandes panos de fundo vazios à espera de serem encontrados pelas câmeras.

A cena da festa em "Don Giovanni" estava difusa no Met; no cinema, ficou claro para onde o espectador devia olhar. Finalmente, a atenção era dirigida a um ponto determinado, contribuindo para a leitura da narrativa da obra.

O Met nega que sejam tomadas decisões artísticas de olho nas transmissões. Gelb me escreveu recentemente.

"A crítica mais injustificada (vinda principalmente de críticos musicais como você) é que os cantores, diretores e designers estejam criando produções cênicas no Met planejadas para a transmissão em HD", afirmou.

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