Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Um pintor devora sua inspiração

Por JEFF GORDINIER

FILADÉLFIA - Como é que uma pessoa chega ao ponto de não conseguir parar de criar pinturas de queijo?

No caso do artista e fanático por comida Mike Geno, 41, de Filadélfia, vale a pena voltar a fita para a fase de sua vida em que ele criou sua primeira pintura de um filé.

Isso foi há mais de uma década, quando ele estudava na Southern Illinois University Carbondale e a frase "artista faminto" descrevia sua vida com precisão dolorosa.

Um dia, contou Geno, ele estava sentado no ateliê, "muito pobre e esfomeado", quando um amigo passou para vê-lo.

"Eu falei 'eu deveria fazer uma pintura de um grande bife suculento, alguma coisa em que a gente sentisse vontade de afundar os dentes'", recordou ele em seu apartamento, cujas paredes são cobertas de telas a óleo de "doughnuts" (algo como sonhos) de geleia, cachorros-quentes, croissants, fatias de pancetta, pedaços de sushi, rolos curiosamente eróticos de bacon e muitos, muitos pedaços de queijo.

"Então no dia seguinte saí e comprei um filé", contou Geno. "Escolhi o 'porterhouse' porque achei que ele representa a essência de um filé."

Para manter o filé resfriado, ele o colocou sob um ar condicionado. E pintou o retrato dele em pouco tempo: menos de quatro horas.

"Eu não podia deixar de comê-lo", explicou. "Foi por isso que fiz a pintura correndo. Comi o filé naquela noite e estava uma delícia."

Mais tarde, Geno percebeu que seu impulso culinário encontrara eco entre seus professores e colegas: todo o mundo se derretia diante da pintura do filé.

Depois desse avanço em sua carreira, Geno -que vende a maioria de suas telas on-line, por preços que variam de US$ 300 a US$ 900- desenvolveu uma espécie de afirmação de missão.

"Só pinto coisas que acho atraentes e apetitosas", declarou. "Gosto de traduzir na tela aquilo que acho o mais sedutor no meu objeto. E descobri que o queijo é perfeito para minha maneira de pintar. Fico com fome só de olhar para um queijo."

Tenaya Darlington, 40, que mantém um blog sobre queijo sob o pseudônimo de Madame Fromage, comentou: "As pinturas dele são seduções. Elas me dão vontade de pegar um pedaço de baguete e arrancar um pedaço de tinta da tela."

Darlington acabou por se tornar a mentora de Geno no quesito queijos. Juntos, eles partiram para conhecer queijos de todo o mundo.

Hoje eles se encontram com frequência nas manhãs de sexta-feira para percorrer lojas de Filadélfia, "experimentando as novidades", disse Darlington.

Há outros alimentos que também atraem a atenção de Geno. Recentemente, ele converteu uma pintura com imagens de bacon numa cortina de chuveiro. Mas, como Picasso com a cor azul e Monet com os montes de feno, Geno sempre retorna para a fonte aromática de sua obsessão. "Aprendi uma coisa: os queijos nunca vão se esgotar para mim", disse ele.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.