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Um estúdio de cinema com a violência no DNA

Por MICHAEL CIEPLY

LOS ANGELES - Os filmes para a família fazem parte do DNA da Walt Disney. A Universal Pictures tem um fraco por monstros. E a Warner Brothers? Seus filmes destacam a violência.

Há décadas, filmes produzidos pela Warner vêm colocando o estúdio no meio da discussão sobre a violência no cinema e na vida real. Essa discussão voltou à tona após o tiroteio de 20 de julho em Aurora, no Colorado, durante uma sessão do filme "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge".

O sucesso de "Cavaleiro das Trevas" nas bilheterias parece garantido, mas executivos da Warner adiaram a estreia de "Gangster Squad", de acordo com uma pessoa informada sobre os planos do estúdio. O filme mostra a guerra da polícia contra mafiosos na Los Angeles dos anos 1950.

Os trailers do filme, que mostravam homens armados disparando num cinema, foram tirados de circulação após a chacina de Aurora. Executivos discutiram se seria o caso de refilmar partes de "Gangster Squad".

A ligação da Warner Brothers com a violência data dos anos 1930, quando os musicais começaram a perder público e o estúdio produziu uma série de filmes de gângster cujas tramas dizia serem tiradas das manchetes dos jornais. Já os jornais às vezes acusavam a Warner de incitar o tipo de comportamento que dramatizava em seus filmes. Os mais conhecidos dos títulos de gângster da Warner daquela época foram "Alma no Lodo" ("Little Caesar"), "Inimigo Público" ("Public Enemy") e "O Fugitivo" ("I Am a Fugitive From a Chain Gang"). Dois filmes da Warner, "Bonnie and Clyde - Uma Rajada de Balas", de Arthur Penn, e "Meu Ódio Será Sua Herança", de Sam Peckinpah, estiveram ao centro de um debate nos anos 1960 sobre o que o crítico do "New York Times" A. O. Scott descreveu como "o conhecimento especializado da violência".

Mas foi "Laranja Mecânica", lançado em 1971, que realmente mergulhou a Warner numa controvérsia sobre filmes e suas consequências. Fantasia sobre jovens sociopatas num futuro distorcido, o filme foi vendido com uma propaganda que prometia "estupros, ultraviolência e Beethoven". Mais tarde, uma mulher teria sido estuprada numa cidade inglesa por um bando de homens que cantavam "Singin' in the Rain", imitando o personagem representado por Malcolm McDowell no filme. Um funcionário de parque de diversões supostamente obcecado pelo filme espancou duas mulheres até a morte em incidentes distintos, o segundo dos quais aconteceu 13 anos após o primeiro. Ele usava chapéu-coco e tocava a abertura "William Tell".

As ligações com o filme não foram comprovadas. Mas o diretor, Stanley Kubrick, insistiu que a Warner tirasse "Laranja Mecânica" de cartaz no Reino Unido. O filme só voltou a ser exibido no país após a morte dele, em 1999.

A Warner criou mais polêmica em dezembro de 1971, com o lançamento de "Perseguidor Implacável" ("Dirty Harry"). No filme, Clint Eastwood era um policial de San Francisco revoltado que fazia justiça com uma arma Magnum 44. Em 1974, um escritor já especulava sobre a influência que o filme poderia ter tido sobre incidentes brutais envolvendo a polícia de San Francisco.

Quentin Tarantino, mestre de uma violência de tipo novo e mais extravagante, fez sua estréia como roteirista de estúdio com "Amor à Queima-Roupa", em 1993. "Assassinos Por Natureza", baseado numa história criada por Tarantino, mas dirigido por Oliver Stone, assinalou o que talvez tenha sido o choque mais assustador da Warner com acontecimentos reais, pelo menos até a chacina de Aurora.

Lançado em 1994, o filme mostrava um casal de namorados que partia numa trilha de violência. Em meio a vários crimes com elementos semelhantes aos do filme, a balconista Patsy Byers, do Louisiana, foi baleada por um casal, que teria sido influenciado pelo filme, e ficou tetraplégica.

Byers processou Oliver Stone e a Time Warner. A Suprema Corte dos EUA aceitou uma decisão judicial autorizando o processo a ir a julgamento. A ação acabou sendo rejeitada com base na Primeira Emenda (que garante a liberdade de expressão).

Em 2002, "Matrix" criou um novo tipo de violência na tela, unindo uma ficção complexa com armas poderosas e artes marciais. Os três filmes "Matrix" foram vistos como responsáveis por crimes em que os réus declararam insanidade, alegando que fugiam do Matrix.

Três décadas antes, porém, um jornalista tinha registrado na revista "Newsweek" a inutilidade de se preocupar com os efeitos de um filme. "Há poucas chances de que esta fantasia de direita mude as coisas, considerando que décadas de filmes humanistas não o fizeram", escreveu ele.

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