São Paulo, segunda-feira, 04 de janeiro de 2010

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Nokia se esforça para voltar à fase áurea

Empresa tem de concorrer com a Apple e o BlackBerry

Por NELSON D. SCHWARTZ
HELSINQUE, Finlândia - Se há um lugar do mundo onde ainda é falta de educação exibir um BlackBerry ou um iPhone é na reunião anual de análise da Nokia.
Mas, no começo de dezembro, enquanto os executivos discutiam os planos da empresa para 2010, a mensagem otimista era desmentida pelo comportamento da plateia. No fundo da sala, vários gestores financeiros brincavam distraidamente com dispositivos concorrentes, normalmente um BlackBerry, enquanto animados slides de PowerPoint promoviam as ofertas mais recentes da Nokia.
François Meunier, analista da consultoria financeira Cazenove, em Londres, murmurava dúvidas sobre a apresentação ao tentar chamar a atenção do funcionário que entregava o microfone para a sessão de perguntas e respostas. Finalmente foi a vez de Meunier, que não resistiu em declarar publicamente o que vinha resmungando a tarde toda.
"Não acho que ninguém nesta sala esteja esperando uma melhora nos lucros no ano que vem", disse ele aos executivos, antes de questionar se o dividendo de 4% da Nokia é sustentável.
A avaliação pessimista de Meunier sobre as perspectivas para 2010 da outrora poderosa fabricante de celulares ocorre após um 2009 igualmente sombrio. Embora a empresa de Espoo, perto de Helsinque, ainda domine 37% do mercado global de telefones móveis, ela enfrenta forte concorrência no lucrativo topo do setor, onde o iPhone, da Apple, e o BlackBerry, da Research in Motion, se tornaram os mais desejados entre os "smartphones", capazes de acessar a internet e e-mails.
"A experiência inteira do usuário é um pesadelo", lamenta Nick Jones, analista sênior da Gartner, que monitora o setor de tecnologia. "Não é de maneira alguma uma experiência competitiva em relação ao iPhone."
Olli-Pekka Kallasvuo, o taciturno executivo-chefe da Nokia, admite que o clima tem estado lúgubre, especialmente em Wall Street. "Não estamos recebendo o benefício da dúvida", disse ele em entrevista um dia depois da reunião dos analistas. "Precisamos mudar isso."
Os problemas da Nokia são especialmente agudos na América do Norte, onde detém apenas 3,1% do mercado de "smartphones", contra 51% da Research in Motion e 29,5% da Apple, segundo a Gartner. Como que salientando seus problemas nos Estados Unidos, a Nokia anunciou recentemente que fechará as lojas que serviam de vitrine da marca em Nova York e Chicago.
"Tomamos decisões erradas no mercado norte-americano", diz Kai Oistamo, vice-presidente-executivo de dispositivos. A Nokia demorou, por exemplo, a mudar para o celular tipo "concha", aferrando-se ao modelo "monobloco", abandonado pelos consumidores.
E, embora a Nokia tenha sido a primeira a oferecer telas sensíveis ao toque, em 2004 -três anos antes da estreia do iPhone-, os modelos da Apple rapidamente fizeram os produtos concorrentes da Nokia parecerem desajeitados. A maioria dos celulares "touch screen" da Nokia não é capaz de transformar sua tela rapidamente com o passar do dedo.
Até recentemente, segundo executivos da Nokia e especialistas do setor, a empresa não queria produzir telefones sob medida para os gostos do consumidor norte-americano e resistia às exigências das grandes operadoras para lançar celulares baseados nas suas marcas e nas suas especificações individuais.
"O mercado nos EUA sempre foi dominado pelas operadoras, são elas que dão as cartas", diz Carolina Milanesi, da Gartner. "E a Nokia tem tido uma relação difícil com as operadoras."
E, embora a Nokia venda muitos "smartphones" em outras partes do mundo, sua participação global nesse mercado caiu de 42,3% para 39,3% em um ano. Até na Europa, reduto da Nokia, o iPhone está rapidamente conquistando popularidade.
A empresa finlandesa está finalmente reagindo -seu E72, ágil e semelhante ao BlackBerry, foi recentemente lançado nos EUA-, mas enfrenta ameaças crescentes em outros segmentos.
O Google vem com o Android, rival do sistema operacional próprio da Nokia que já foi escolhido por concorrentes como HTC, Motorola e Dell, enquanto fabricantes asiáticos estão oferecendo aparelhos baratos em países emergentes, onde a Nokia há muito tempo tem uma participação desmedida no mercado. A Apple e a Nokia estão envolvidas em uma disputa jurídica por patentes.
"A Nokia enfrenta concorrência no mundo todo", diz Sherief Bakr, analista do Citigroup. "No topo, da Apple; no meio, da Research in Motion; e dos coreanos e chineses no piso."


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