São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

LENTE

A paixão pelo jeito americano

O estilo americano -seja rústico, vintage, estudantil ou casual- está de novo na moda. Um visual americano mais simples, sem floreios, está influenciando um movimento de design no qual as coisas bem feitas e duráveis inspiram colecionadores de placas antigas, poltronas de couro e instrumentos vintage.
"Eu gosto de coisas da era industrial, de coisas mais 'clean'", que não são "enfeitadas demais", disse Grace Kelsey ao jornal americano "The New York Times".
Ela é uma designer e colecionadora de objetos americanos do início do século 20, que tem ajudado a espalhar esse visual para lojas, restaurantes e hotéis em Nova York. Uma peça cobiçada desse clássico chique são as mantas de acampamentos de marcas tradicionais como Pendleton e Hudson's Bay.
Roupas cáquis, mocassins e agasalhos esportivos -uniformes dos cursinhos pré-universitários da Nova Inglaterra- estão inundando Paris, numa "colonização reversa". Michael Kors, conhecido por sua linha de moda esportiva americana, acaba de abrir uma loja na Rue Saint-Honoré, onde esse estilo está representado também pelas grifes Tommy Hilfiger e Brooks Brothers. A Ralph Lauren, que aperfeiçoou essa estética, abriu uma loja na Rive Gauche em 2010, e a Abercrombie & Fitch inaugura em breve uma megaunidade na Champs-Élysées.
"Assim como os americanos querem ser sofisticados, os europeus querem participar dessa atitude cool-esportiva", disse ao "Times" Ken Downing, diretor de moda da Neiman Marcus. É tudo parte da "casualização da moda".
Esse visual descontraído, que é tipicamente americano e já foi tido como desleixado, tem como símbolo Mark Zuckerberg, 26, o criador do Facebook, que veste jeans "baggy" e blusão de moletom com capuz. Seu estilo antimoda está gerando imitadores, escreveu o "Times", ou pelo menos passou a simbolizar o "sucesso de uma nova geração de aspirantes a milionários". O blogueiro texano Nathan Tone disse ter a impressão de que ninguém mais consegue angariar investimentos se não estiver usando calças de moletom.
Jocelyn Greenky Herz, que trabalha em uma empresa de planejamento de eventos em Nova York, disse ao "Times" que costuma sair para fazer ginástica ou jantar usando uma das suas dez calças de cintura elástica.
Só 4% das mulheres nos EUA afirmam adotar um rígido figurino profissional, e 31% dizem se vestir de um jeito totalmente casual, relatou o "Times". E calças de ioga e outras roupas de ginástica estão se tornando tão comuns nos escritórios que estilistas como Kors e Alexander Wang estão fazendo versões de luxo.
Alguns executivos se identificam com isso. Steve Jobs, da Apple, só usa calças jeans e camiseta preta de gola alta, supostamente para não ofuscar a sua marca, contou o "Times". Sergio Marchionne, da Chrysler, adota a blusa preta e a camisa xadrez como uniforme.
"A mensagem que ele queria passar é que não usar gravata e não usar paletó significa que somos mais flexíveis, e que o que realmente interessa não é o uniforme, mas outra coisa", disse ao "Times" Cristiano Carlutti, ex-diretor de veículos usados da Fiat.
Mas, para fabricantes de ternos sob medida como Bruce Cameron Clark, de Nova York, a tendência é uma "calamidade casual".
"Há 20 anos era diferente", afirmou ao "Times". "As pessoas estavam muito mais interessadas na sua aparência. Hoje, eu diria que estamos a caminho do ralo como sociedade."

ANITA PATIL
Envie comentários para nytweekly@nytimes.com




Texto Anterior: Uma ameaça desprezada pelos engenheiros
Próximo Texto: Tendências Mundiais
Crise árabe faz diplomatas repensarem suas carreiras

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.