São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2011

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Falha geológica é desconhecida ou subestimada

Falhas geológicas apanham cientistas de surpresa

Por KENNETH CHANG
Num mapa que mostra os riscos sísmicos do Japão, a área ao redor da Prefeitura de Fukushima é colorida em verde, significando um risco relativamente baixo, e amarelo, denotando um risco bastante elevado.
Mas, como o Japão fica na confluência de várias placas tectônicas, quase todo o país está sujeito a terremotos. A maioria dos cientistas esperava que o próximo grande abalo fosse ocorrer a sudoeste de Fukushima, em áreas marcadas nas cores laranja e vermelho.
"Em comparação ao resto do Japão, [a área afetada pelo tremor de 11 de março] parece bastante segura", disse Christopher Scholz, sismólogo ligado à Universidade Columbia, de Nova York. "Se você fosse instalar um reator nuclear, se basearia em um mapa como este."
Registros dos últimos 300 anos indicam que, de décadas em décadas, uma parte da fossa do Japão, uma falha geológica no mar, a leste de Fukushima, se rompe, gerando um tremor de magnitude entre 7,5 e 8,0.
Terremotos assim são devastadores em muitas partes do mundo, mas os japoneses se prepararam diligentemente para eles, com rígidos códigos de construção e quebra-mares destinados a conter tsunamis.
É verdade que tanta precaução provavelmente salvou dezenas de milhares de vidas, mas ela não seria capaz de evitar a vasta destruição de um tremor de magnitude 9,0, que libera cerca de 30 vezes mais energia que um de 8,0. O de março foi o maior já registrado no Japão e empata como o quarto maior no mundo desde 1900.
Tsunamis de nove metros de altura passaram sobre os quebra-mares e se estenderam por quilômetros terra adentro. O número de mortos deve superar 20 mil. "Ninguém esperava uma magnitude 9,0", disse Shinji Toda, professor de geologia da Universidade de Kyoto.
Não foi a primeira vez que os cientistas subestimaram a ferocidade de uma falha tectônica. Muitos também foram surpreendidos pelo tremor de magnitude 9,1 em 2004, na costa de Sumatra, que desencadeou tsunamis que mataram mais de 200 mil pessoas.
Às vezes, os cientistas são pegos no contrapé por tremores ocorridos em falhas geológicas desconhecidas. Foi o caso dos letais terremotos deste ano na Nova Zelândia; do Haiti em 2010; de Northridge (Califórnia) em 1994; e de Santa Cruz (Califórnia) em 1989.
"É vergonhoso, mas nós mal conseguimos arranhar a superfície", disse Ross Stein, geofísico do Departamento de Pesquisas Geológicas dos EUA (USGS).
Na Califórnia, os cientistas catalogaram 1.400 falhas, mas, no caso de tremores menores -magnitude 6,7 ou menos-, cerca de um terço ocorre em falhas até então desconhecidas.
Os maiores terremotos ocorrem em zonas de subducção, locais onde uma placa oceânica colide com uma placa continental e desliza sob ela, em particular nas bordas do oceano Pacífico.
Mas algumas zonas de subducção parecem produzir mais terremotos grandes do que outros. Scholz disse que o recente terremoto do Japão se encaixa numa teoria que ele e Jaime Campos, da Universidade do Chile, desenvolveram em 1995.
Segundo Scholz, alguns pedaços da placa do Pacífico na costa de Fukushima ficaram presos enquanto a placa avançava sob o Japão. Nos terremotos mais modestos dos últimos 300 anos, apenas um pedaço se soltava. Desta vez, disse ele, os pedaços se soltaram simultaneamente, causando um tremor mais cataclísmico.
Na história do Japão, parece haver um precedente para o terremoto recente, mas aconteceu há mais de mil anos. Um texto conhecido como "Nihon Sandai Jitsuroku" [a verdadeira história dos três reinos do Japão] descreve um tremor em julho de 869 e um tsunami que inundou as planícies do nordeste japonês: "O mar logo correu para aldeias e vilas, dominando algumas centenas de milhas em terra ao longo da costa".
Foram essas mesmas planícies que ficaram inundadas em março. Análises de sedimentos deixados pelo tsunami 869 levaram a uma estimativa de que aquele terremoto teve magnitude 8,3.
O geólogo Brian Atwater, da USGS, disse que uma situação similar ocorre na costa noroeste da América do Norte. Só nos últimos 20 anos, os cientistas perceberam que as condições sísmicas da fossa de Cascadia, na costa do Oregon, tinham o potencial para produzir um terremoto intenso. Sistemas de alerta foram desenvolvidos, e planos de desocupação foram elaborados.
Outra zona de subducção preocupante fica a 3.200 km da fossa de Java, no oceano Índico. Poucos terremotos ocorrem por lá.
Robert McCaffrey, professor de pesquisas geológicas na Universidade Estadual de Portland, no Oregon, disse não acreditar que a geofísica possa distinguir as zonas de subducção perigosas das não tão perigosas. "Simplesmente, não possuímos um histórico dos terremotos longo o suficiente para fazermos modelos de subducção", afirmou.
A única característica relevante, disse ele, é o comprimento da falha, e ele vê potencial para um terremoto de magnitude 9,6 na fossa de Java.
A Indonésia, que não construiu diques extensos nem sistemas de alerta, provavelmente seria muito afetada.
"Esse é o meu maior medo", disse McCaffrey.


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