São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2011

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Avaliação depois do vazamento

Por CLAUDIA DREIFUS
Desde o acidente da plataforma Deepwater Horizon, da BP, a oceanógrafa Samantha Joye, 45, da Universidade da Geórgia, voltou atenção para vazamentos de petróleo. Foi o seu grupo de pesquisas que chegou ao golfo do México depois do desastre de abril de 2010. Agora, Joye comanda uma equipe que busca compreender os efeitos de longo prazo.

P.Como soube do vazamento?
R.Eu estava em casa, cuidando de uma lesão nas costas. Vários colegas meus, na verdade, estavam perto da explosão. Na manhã seguinte, viram essa enorme coluna de fumaça a dez milhas de distância. Logo, a Guarda Costeira os instruiu a deixar a área. Meus colegas enviaram e-mails descrevendo tudo o que tinham presenciado.

P.Como se sentiu ao ler estas mensagens?
R.Com o estômago embrulhado. Essa plataforma estava explorando um reservatório gasoso submarino, o que fazia da explosão uma possibilidade real. Mas a Guarda Costeira dizia que estava tudo bem. No início, eles alegaram que não houve vazamento algum. Em seguida, que era de apenas mil barris por dia, o que logo foi revisto para 5.000.

P.E o que a sra. descobriu?
R.Foram meus colegas Vernon Asper, da Universidade do Sul do Mississippi, e Arne Diercks, da Universidade do Mississipi, que descobriram colunas de óleo e gás, que continham 90% de gás metano. As colunas submarinas eram grandes: 3 km a 5 km de largura e 10 km a 20 km de extensão.

P.Qual era o significado delas?
R.A história oficial era que o petróleo estava subindo do poço para a superfície, onde estava evaporando e dispersando. As colunas indicavam que um aspecto significativo do vazamento não era reconhecido.

P.Como o governo reagiu à sua descoberta?
R.Eles disseram que nós estávamos -essencialmente- malucos. As colunas foram negadas durante muito tempo.

P.Além das colunas, o que o seu grupo encontrou?
R.No leito marinho, nos locais onde colhemos amostras, era devastador. Muitas vezes, a gente via aquele muco oleoso cobrindo tudo. Existem essas bactérias no mar que comem petróleo. Quando seus dejetos, carregados de óleo, ficam pesados, caem no chão. E devem estar caindo como uma tempestade há meses, porque já cobriram os sedimentos. Normalmente, o leito marinho é repleto de invertebrados -pequenos animais com tubos, conchas. Bem, os tubos ainda estavam lá, mas os animais estavam mortos. Suspeito que tenham sufocado quando os resíduos oleosos choveram sobre eles.

P.Como a sra. caracterizaria o fundo do mar?
R.Um cemitério.

P.Muitos filhotes de botos têm aparecido mortos nas costas do Golfo. A sra. acha que isso está ligado ao vazamento?
R.Eu não sou bióloga marinha. Mas, levando em conta a explosão e essas mortes, parece razoável suspeitar de uma ligação.

P.Ao ler as notícias do Japão, o que a sra. sente?
R. Ninguém pode impedir os terremotos. Mas construir usinas nucleares em uma ilha adjacente a uma zona tectônica ativa é perigoso. Da mesma forma, a perfuração em águas profundas passando por sedimentos sobrecarregados de gás é perigosa. Os desastres são um apelo muito forte em prol da energia limpa.


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