São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

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Eleitores da Indonésia rejeitam o islã radical


Proibição de álcool em hotéis influenciou o eleitorado


Por NORIMITSU ONISHI

JACARTA, Indonésia - Do Paquistão ao Líbano e a Gaza, movimentos islâmicos têm conquistado terreno rapidamente nos últimos anos, alimentando os temores ocidentais quanto à consolidação de governos muçulmanos radicais. No entanto, no mais populoso dos países islâmicos, ocorre justamente o contrário.
Nas recentes eleições parlamentares da Indonésia, o eleitorado puniu os partidos islâmicos que deram ênfase excessiva a questões religiosas, e nem mesmo os esforços dos partidos para apelar ao "mainstream" funcionaram.
O principal partido islâmico, o da Justiça Próspera, exibiu comerciais de TV mostrando moças com a cabeça descoberta e distribuiu panfletos com as cores dos principais partidos laicos. Mas ficou aquém da sua meta de 15% dos votos -avançou menos de um ponto percentual sobre a sua votação de 7,2% em 2004.
Foi uma grande decepção para um partido e um movimento que haviam crescido de modo fenomenal nos últimos anos, mesmo que elementos mais radicais tenham dirigido ataques terroristas contra alvos e turistas ocidentais. O partido projetava dobrar sua bancada parlamentar apesar de se aferrar ao objetivo, expresso em sua fundação, de impor a sharia (lei islâmica) no país de 240 milhões de habitantes, o quarto mais populoso do mundo.
"As pessoas em geral não sentem que deveria haver uma integração entre fé e política", disse Azyumardi Azra, diretor de pós-graduação da Universidade Estatal Islâmica Syarif Hidayatullah. "Embora cada vez mais muçulmanos, em particular as mulheres, tenham se tornado mais islâmicos e tenham uma crescente ligação com o islã, isso não se traduz em um comportamento eleitoral."
Juntos, os principais partidos islâmicos tiveram uma queda de 38% da votação em 2004 para menos de 26% neste ano, segundo o Instituto Indonésio de Pesquisas, cujas cifras são compatíveis com os resultados oficiais parciais.
Políticos e analistas atribuem tal declínio à desilusão do eleitorado com os partidos islâmicos, que no passado pregavam o idealismo, mas se viram envolvidos no confuso e frequentemente corrupto mundo da política indonésia. Eles dizem também que o popular presidente Susilo Bambang Yudhoyono, favorito à reeleição em julho, se apropriou da principal bandeira do maior partido islâmico, a do governo honesto, por meio de uma abrangente iniciativa de combate à corrupção.
Num nível mais profundo, algumas medidas fundamentalistas dos partidos parecem ter alienado os indonésios moderados. Embora a Indonésia tenha uma longa tradição de moderação, ela foi duramente desestabilizada com o fim do regime militar em 1998, o que permitiu a ascensão de políticos islâmicos que pregavam a retidão e de alguns elementos radicais que praticavam a violência.
Embora os resultados finais da eleição de 9 de abril só devam ser anunciados neste mês, os resultados oficiais parciais e as pesquisas de boca de urna indicam que os indonésios apoiaram esmagadoramente os grandes partidos seculares, embora a população continue se voltando cada vez mais para o Islã em suas vidas privadas.
Em 2004, apenas dois anos depois da sua fundação, o Partido da Justiça Próspera saiu do nada para se juntar à coalizão de governo de Yudhoyono e conquistar vários governos regionais.
Mas os partidos islâmicos irritaram muitos indonésios ao pressionarem por várias questões religiosas simbólicas, como uma vaga lei "antipornografia" que poderia ser usada para proibir desde exposições parciais de nudez até a ioga.
"Agora há problemas nos hotéis porque eles não podem servir álcool", afirmou Jusuf Wanandi, analista do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, entidade local de pesquisas políticas. "As pessoas começaram a reconhecer do que eles são capazes, e por isso a classe média que os apoiava agora pensa duas vezes."


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