São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

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Cidade alemã das joias perde brilho


Dificuldade econômica abala os dois lados da Alemanha


Por NICHOLAS KULISH

PFORZHEIM, Alemanha - A revendedora Opel de Pforzheim, uma empresa familiar, fechou depois de 80 anos em operação. Após a falência da loja de departamentos local SinnLeffers, a mercearia no subsolo colocou anúncios de cervejas e massas em vitrines antes ocupadas por manequins. O índice de desemprego não para de subir, à medida que desaparecem trabalhos no setor industrial.
Até pouco tempo atrás, esse cenário era mais comum no lado oriental da Alemanha. Mas agora passou ao lado ocidental, inclusive a uma das regiões mais ricas do país, o Estado de Baden-Württemberg. O desemprego crescente na Alemanha está em grande medida passando ao largo das áreas mais pobres do lado oriental, atingindo o coração das ricas regiões industrializadas do oeste e do sul do país.
Conhecida como Cidade Dourada devido a sua posição histórica de capital alemã da joalheria, Pforzheim hoje tem o índice de desemprego que cresce mais rapidamente no país. A falta de trabalho ainda é maior no lado oriental, onde, em algumas áreas, chega perto dos 20%. Mas o número de desempregados no lado ocidental aumentou em 31 mil pessoas em março, contra apenas 3.000 na antiga Alemanha oriental. Nos últimos 12 meses Pforzheim teve a maior alta do desemprego no país, passando de 7,1% para 9,8% -aumento de 2,7 pontos percentuais-, acima da média nacional de 8,6%.
Segundo economistas, os consumidores alemães têm sido um dos poucos pilares da economia global, por não terem sentido a recessão tão diretamente quanto os americanos ou seus vizinhos europeus. Não houve bolha imobiliária real na Alemanha; poucos alemães têm suas aposentadorias investidas em participações acionárias, e as proteções trabalhistas são muito mais fortes. Mas, à medida que o declínio nas exportações leva a mais e mais demissões, a expectativa é que a crise provoque sofrimento em toda a Alemanha, a maior economia da Europa.
Pforzheim tornou-se centro joalheiro a partir de 1767, quando seu governante fundou uma fábrica de relógios e joias num orfanato. Nas décadas recentes, à medida que a produção de colares, anéis e pulseiras mais baratos migrou para mercados asiáticos de mão de obra barata, os metalúrgicos alemães altamente especializados passaram a produzir componentes de precisão para o setor automotivo.
Mas a combinação de bens de luxo e autopeças mostrou-se fraca neste período de declínio econômico, deixando a cidade de 120 mil habitantes exposta à queda no consumo.
Habitantes de Pforzheim dizem que os problemas da economia são tema constante de discussões. "Ainda me levanto às 5h da manhã todos os dias", disse o ourives Helmut Frey, 57, desempregado desde dezembro. Evitando perguntas sobre seu futuro, resume: "Para mim, as perspectivas basicamente acabaram".
Há pouco tempo, cerca de 14 mil funcionários da Thyssen-Krupp protestaram em Duisberg contra planos da empresa de demitir milhares de empregados. A montadora alemã Daimler, que reduziu os horários de trabalho de 70 mil funcionários, anunciou recentemente que não pode excluir a possibilidade de demissões.
Isso significaria mais más notícias para Pforzheim, onde muitos habitantes trabalham em fábricas da Daimler em cidades vizinhas. A sucursal local do Escritório Federal do Trabalho alemão informou que há aproximadamente 10 mil desempregados em Pforzheim e arredores e que o mesmo número de trabalhadores já passou a trabalhar em horários reduzidos.
Ralf Scheithauer, 49, perdeu seu emprego numa fábrica de eletrônicos onde trabalhou por 15 anos, mas teve a sorte de encontrar um estágio em terapia ocupacional. "As pessoas não gostam de falar sobre isso", comentou. "Você se pega pensando 'o que ele está fazendo, cuidando do jardim durante o dia?'. Há a impressão de que, se uma pessoa não tem trabalho, a culpada por isso deve ser ela mesma, de alguma maneira."


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