São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

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ZAHI HAWASS

Ele desvenda túmulos no Egito -longe ou (sobretudo) perto das câmaras


"Precisamos de um projeto em que todos possam acreditar, um projeto nacional. Precisamos aprender com o Egito antigo"


Por MICHAEL SLACKMAN

CAIRO - Mais de 2.500 anos atrás, o corpo mumificado de um homem rico foi cuidadosamente colocado dentro de um túmulo esculpido manualmente, 20 metros abaixo da superfície do deserto. Seus restos mortais foram postos dentro de um féretro de calcário e ali encerrados para toda a eternidade. Ou, pelo menos, era essa a ideia.
Então, em março de 2009, trabalhadores dentro da câmara mortuária abriram a tampa do caixão, retiraram metade dela e expuseram os restos mortais do homem, pela primeira vez em dois milênios e meio. E quem estava ali para saudar a múmia? Estamos no Egito, então só poderia ser Zahi Hawass. "Acho que esse homem era importante", disse Hawass com um gesto teatral, tirando um pouco da poeira da múmia diante das câmeras.
Nos sete anos passados desde que foi nomeado secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, Hawass tem estado em movimento contínuo. Ele pessoalmente anuncia cada nova descoberta e foi o responsável pelos planos de construção de 19 novos museus. Aprovou a restauração de nove sinagogas no Cairo e contribuiu para incontáveis livros, documentários e artigos em revistas e jornais, todos promovendo as antiguidades egípcias -e ele próprio, é claro.
Como é de se esperar, tudo isso nem sempre lhe vale novos amigos. Hawass tem sido censurado por suas declarações críticas com relação aos judeus. Ele insiste que não é antissemita e que suas críticas se referem unicamente aos judeus israelenses e o tratamento que dão aos palestinos.
Há cientistas para quem Hawass é demasiado preocupado em promover a si mesmo e nem sempre reproduz os fatos corretamente. Mas seu viés dramático e o virtual monopólio que detém dos tesouros ímpares da antiguidade egípcia lhe valeram admiradores internacionais. "Quando ele vai a um lugar, as pessoas se reúnem à sua volta para conversar com ele", comentou Mahmoud Ibrahim Hussein, presidente do departamento de estudos da antiguidade da Universidade do Cairo.
Hawass nasceu no povoado de Al Ubaydiyah, na região do Delta do Nilo, a nordeste do Cairo. Entrou para o serviço de antiguidades do país como inspetor em 1969, dois anos depois de obter seu bacharelado em arqueologia grega e romana na Universidade de Alexandria. Em 1987, obteve seu Ph.D. após estudar na Universidade da Pensilvânia (EUA). Em 2002, foi nomeado secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades.
Hawass estava dentro de uma câmara mortuária que foi escavada há cerca de 4.300 anos para a mãe de um faraó. Ou, pelo menos, foi o que ele teorizou. Quando as ruínas encontradas não revelam algum detalhe, Hawass frequentemente procura preencher os vazios, tecendo histórias baseadas em seu conhecimento enciclopédico da história egípcia.
Hawass diz que vê uma maneira de resgatar o presente conturbado do Egito e seu futuro incerto. Acha que o país se beneficiaria da união em torno de um projeto nacional, como fizeram os egípcios da antiguidade quando construíram as pirâmides e os túmulos. "Precisamos de um projeto em que todos possam acreditar, um projeto nacional", defendeu. "Precisamos aprender com o Egito antigo." Para Gamal Ghitany, editor de uma revista literária egípcia, a ideia não é tão despropositada. "É claro que precisamos disso hoje, mas um projeto nacional significa uma meta maior, em torno da qual toda a sociedade possa se unir", disse.

Colaborou Mona el-Naggar



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