São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2011

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Para a ciência, gambá é um bicho diferente

Por NATALIE ANGIER

O Didelphis virginiana (gambá) é um dos mamíferos mais onipresentes dos EUA e é encontrado até no Canadá, ao norte, e na Costa Rica, ao sul. Na mente do público, costuma ser equiparado aos guaxinins e a outros mamíferos comuns, mas cientistas enfatizam que o gambá é um animal diferente.
Para começo de conversa, ele é o único mamífero marsupial dos EUA -um mamífero que gesta seus filhotes em uma bolsa abdominal, ou marsúpio, em lugar de fazê-lo no útero, como fazemos nós, os animais placentários. E novas evidências sugerem que o gambá é mais marsupial que outros animais com bolsas semelhantes.
Depois de analisar fósseis desenterrados recentemente no Wyoming e em outros lugares, cientistas propuseram que os primeiros marsupiais, que datam da era dos dinossauros, possam ter se assemelhado aos gambás, e que todos os outros marsupiais tenham se derivado do formato básico dos gambás.
"Toda vez que vejo um gambá, eu me comovo", disse Inés Horovitz, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade da Califórnia. "Eles conseguiram sobreviver, conservando a mesma aparência dos seus ancestrais de cerca de 60 milhões de anos atrás."
Com o rastreamento da evolução dos marsupiais, pesquisadores também esperam obter novos insights sobre a história dos animais placentários e entender a razão pela qual acabaram por dominar o planeta, respondendo por cerca de 90% dos animais de sangue quente.
Ainda outros cientistas estão intrigados com a adaptabilidade do gambá. Um segredo do êxito desse animal é o fato de ele buscar seu alimento à noite, de não ser territorial e de evitar brigas. Quando é encurralado, um gambá cai de lado, libera um odor fétido e permanece em estado catatônico, com o corpo encolhido, por um período que pode variar de minutos a horas.
Outro fato interessante é que os gambás se dispõem a percorrer distâncias grandes. James C. Beasley e William Beatty, da Universidade Purdue, no Indiana, rastrearam cem gambás que, geralmente, apareciam, 15 dias mais tarde, em um ponto a 24 quilômetros de distância.
Muitos dos gambás que percorriam longas distâncias eram fêmeas com filhotes em seus bolsos. "Talvez estivessem à procura de tocas mais apropriadas", aventou Beasley.
Ou, ainda, de uma variedade alimentar melhor. Os gambás são onívoros oportunistas e possuem 50 dentes. Eles comem insetos, nozes, ração alimentar, roedores, hambúrgueres de fast food. "Consomem qualquer coisa que tenha valor nutricional", disse Alfred Gardner, especialista em gambás do Instituto Smithsonian, em Washington.
Os gambás embrionários passam 12 dias no útero de suas mães, emergindo dele como neonatos, do tamanho de grãos de arroz. Esses neonatos se arrastam para dentro do marsúpio e se ligam a um mamilo, permanecendo ali por dois meses.
A maioria dos marsupiais costuma ter ninhadas grandes, o que ajuda a compensar a brevidade de suas vidas. Mesmo quando vivem protegidos no cativeiro, os gambás não passam dos quatro anos de existência.
No passado, pesquisadores pensavam que os marsupiais fossem os predecessores primitivos dos mamíferos placentários, mas, desde então, descobriram que os dois grupos de mamíferos surgiram na mesma época, cerca de 125 milhões de anos atrás, e evoluíram em trajetórias independentes.
Os mamíferos placentários parecem gozar de vantagem sobre os marsupiais. Apenas na Austrália, nas ilhas que a cercam e em partes da América do Sul, onde os marsupiais viveram em relativo isolamento por períodos longos, é que conseguiram fazer progresso.
Talvez a vantagem dos placentários se deva a seus cérebros relativamente maiores, aventou Gardner. Horowitz sugeriu que, pelo fato de os marsupiais embrionários precisarem de membros dianteiros bem desenvolvidos para se arrastarem até sua fonte de alimento lácteo, eles perdem o potencial de diversidade de membros e de formatos corporais verificado nos mamíferos placentários.


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