São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2010

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Caça-níqueis japonesas viram item de colecionador

Por DOUGLAS QUENQUA

No Japão, jogar "pachislo" é uma obsessão. Os jogadores compulsivos passam horas sentados com os olhos vidrados nos sujos salões de "pachinko" (nome do jogo de pinball vertical que deu origem ao "pachislo"). Embora o jogo seja ilegal no Japão, os jogadores podem trocar suas fichas por "prêmios" -caixas de plástico vazias ou isqueiros- que depois eles levam para centros de troca do outro lado da rua, de onde saem com dinheiro.
Os "pachislos" -caça-níqueis baratos, ligeiramente bregas- diferem da maioria dos caça-níqueis. Por um lado, só funcionam com fichas, e não moedas. Por outro, eles supostamente exigem certa habilidade: abaixo de cada roda giratória há um botão que a detém manualmente, o que significa que os jogadores ganham seus prêmios ao apertar o botão no momento certo.
Eles também não são meros caça-níqueis. Muitas máquinas, especialmente os modelos mais novos, têm telas de LCD em que passam elaboradas narrativas no estilo videogame.
E elas têm algumas características bizarras que atraem os colecionadores de objetos kitsch: desenhos coloridos no estilo anime, efeitos sonoros de rachar os ouvidos e aproximações japonesas de temas americanos como "Rambo" e "Harley Davidson".
As "pachislos" são consideravelmente mais baratas que os caça-níqueis americanos: as máquinas básicas custam cerca de US$ 250, enquanto um caça-níqueis aposentado de Las Vegas pode custar de US$ 800 a US$ 2.000.
Essas máquinas "são hipnóticas, tranquilizadoras", disse David Plotz, editor da revista "Slate", que escreveu sobre as salas de "pachinko" para a "Japan Society" depois de passar algum tempo no Japão em 2001.
Nos EUA, entretanto, a obsessão parece ser mais por colecionar do que jogar.
Os colecionadores se reúnem em sites da internet como Pachitalk.com e PachisloDB.com para trocar resenhas das máquinas mais novas ou dicas sobre onde encontrar aparelhos raros. E o YouTube contém centenas de horas de entusiastas de "pachislo" exibindo suas coleções vistosas e barulhentas.
No modesto apartamento de um quarto de Eddie Cramer no bairro de Brooklyn Heights, em Nova York, as "pachislos" -todas piscando suas luzes e emitindo seu ruído metálico- repousam em praticamente toda superfície horizontal, incluindo seu quarto.
Cramer, um grande colecionador dessas máquinas, diz ao visitante: "Na verdade, nem gosto de receber pessoas aqui".
Brian Evans é um técnico aposentado da Marinha que descobriu as "pachislos" quando esteve no Japão a trabalho, no início da década de 1990. Ele tem mais de 35 máquinas em sua casa em Atlantic Beach, na Flórida.
"Meus vizinhos acharam que eu estava louco quando começaram a ver caixas da Fedex e da UPS chegando uma, duas ou três vezes por mês", ele disse.
Mas se você mencionar "pachislos" para um purista de caça-níqueis como Bob Levy, negociante de antiguidades em Pennsauken, Nova Jersey, prepare-se para uma bronca.
"Elas são lixo, são descartáveis", disse Levy. "Se você é uma criança ou um idoso, elas o manterão ocupado. Mas são o tipo de coisa desinteressante para uma pessoa séria."
Chris Voges, 40, técnico de caça-níqueis dos cassinos Bally, defende as máquinas. "Não é só puxar o botão e esperar que as rodas parem", disse. "Existe um certo roteiro para se seguir."


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