São Paulo, segunda-feira, 05 de outubro de 2009

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Tendências Mundiais

Militantes paquistaneses seguem ativos


Novo atentado acirraria tensão de Paquistão e Índia


Por LYDIA POLGREEN
e SOUAD MEKHENNET


KARACHI, Paquistão - Dez meses após os ataques terroristas lançados em Mumbai por militantes vindos do Paquistão, o grupo responsável pelos atentados permanece em grande medida intacto e determinado a atacar a Índia novamente, segundo membros atuais e anteriores da organização, Lashkar-e-Taiba, e agentes de inteligência.
Apesar das promessas do Paquistão de desmantelar os grupos militantes em seu território, e apesar da prisão de alguns insurgentes, o Lashkar vem persistindo e crescendo desde novembro passado, quando dez de seus recrutas mataram 163 pessoas numa investida em Mumbai, capital financeira da Índia.
Dossiês indianos e paquistaneses sobre as investigações relativas a Mumbai, aos quais o "New York Times" teve acesso, oferecem um retrato das operações de uma rede do Lashkar que cobre todo o Paquistão. Ela inclui quatro casas e dois campos de treinamento em Karachi, usados para preparar os ataques.
Segundo o documento paquistanês, um dos organizadores foi Hammad Amin Sadiq, farmacêutico que garantiu contas bancárias e suprimentos aos militantes. O julgamento formal dele e seis outros militantes começou em 26 de setembro no Paquistão, mas as autoridades indianas disseram que o processo judicial não chega perto de atingir os líderes seniores do Lashkar.
Na verdade, a rede mais ampla do Lashkar continua firme e pode ser mobilizada rapidamente para lançar ataques, segundo militantes atuais e anteriores do grupo e de agentes de inteligência de EUA, Europa, Índia e Paquistão.
Em entrevistas ao "New York Times", eles pintaram um retrato perturbador da capacidade de ação do grupo, sua popularidade no Paquistão e o apoio que recebeu e recebe de ex-membros do establishment militar e de inteligência paquistaneses.
A principal agência de espionagem do Paquistão, a ISI, ajudou a criar o Lashkar há 20 anos, para combater o controle indiano sobre a Caxemira, o território disputado que está ao cerne do conflito entre os dois países vizinhos, ambos donos de armas nucleares.
Funcionários paquistaneses dizem que encerraram seus contatos com o grupo a partir do 11 de Setembro, o que é posto em dúvida por membros da inteligência americana.
Interrogados individualmente, quatro membros do Lashkar disseram que apenas uma distância tênue separa o grupo e o ISI.
Um militante de alto escalão do Lashkar disse que os atacantes de Mumbai faziam parte de grupos treinados por ex-militares e agentes de inteligência paquistaneses. "Algumas pessoas do ISI tinham conhecimento do plano e fecharam seus olhos", disse um agente sênior do Lashkar em Karachi que afirmou ter encontrado alguns dos militantes antes de sua partida para o ataque em Mumbai, embora não soubesse qual seria a missão deles.
Os funcionários de inteligência entrevistados exigiram anonimato para comentar informações sigilosas. Os militantes atuais e anteriores do Lashkar não quiseram que seus nomes fossem usados.
Mas, segundo todos os relatos, a rede do Lashkar, embora esteja dormente, continua viva, e a possibilidade de o grupo voltar a atacar a Índia faz dele um elemento desconhecido e imprevisível em uma das regiões mais explosivas do mundo.
Desde que Índia e Paquistão foram criados pela partilha sangrenta da Índia britânica, em 1947, os dois países já travaram três guerras. A possibilidade de voltarem a trilhar o caminho para a paz ou de se enfrentarem frontalmente, ambos com suas armas nucleares prontas para disparar, depende em grau nada desprezível das ações desse grupo que age nas sombras.
Um novo ataque poderia reverberar amplamente na região e trazer novamente à tona dúvidas inquietantes sobre o compromisso do Paquistão em reprimir os grupos militantes que atuam em seu território.
Poderia, também, complicar perigosamente os esforços do governo Barack Obama no Afeganistão. O êxito nesse país depende em parte de se evitar um conflito aberto entre Índia e Paquistão, para que as forças armadas paquistanesas possam concentrar-se em combater os insurgentes do Taleban que deitam suas bases no Paquistão.
Se há um ponto sobre o qual concordam as agências de inteligência de ambos os lados da fronteira é que as consequências de um novo ataque do Lashkar poderiam ser devastadoras.
"Tememos que, se algo como Mumbai voltar a ocorrer na Índia, possa haver uma reação militar do lado indiano e que isso desencadeie uma guerra", disse um alto funcionário da inteligência no Paquistão. "Neste momento não podemos garantir que isso não vá se repetir, porque não exercemos nenhum controle sobre isso."

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