São Paulo, segunda-feira, 06 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Investigador almeja explicar o complicado conceito de felicidade

Por JOHN TIERNEY

Será que a importância da felicidade é superestimada?
Martin Seligman pensa que sim, posição que pode causar estranheza, já que ele é o fundador do movimento da psicologia positiva. Como presidente da Associação Psicológica Americana no final dos anos 1990, Seligman criticou seus colegas por focarem constantemente sobre as doenças mentais e outros problemas. Ele os incentivou a estudar as alegrias da vida e, em 2002, escreveu um best-seller intitulado "Felicidade Autêntica".
Hoje, porém, ele lamenta esse título. À medida que o estudo da felicidade avançou, Seligman começou a enxergar limitações do conceito. Por que casais continuavam a ter filhos, apesar de os dados mostrarem que os pais são menos felizes que os casais sem filhos? Por que os bilionários buscavam ganhar mais dinheiro, mesmo quando não havia nada que quisessem fazer com ele?
E por que alguns insistem em jogar bridge constantemente, mesmo sem sentirem alegria com isso? Seligman, ele próprio jogador inveterado de bridge, observava que havia jogadores que nunca sorriam. Eles não jogavam para ganhar dinheiro, fazer amizades ou se sentirem engajados em algo.
"Eles queriam ganhar por ganhar, mesmo que isso não lhes proporcionasse emoção positiva", diz Seligman. "Observando-os jogar, vendo-os trapacear, eu percebia que a realização é uma aspiração humana por si só."
Esse sentimento de realização contribui para algo que os gregos antigos chamavam "eudaimonia", que pode ser traduzido aproximadamente como "bem-estar" ou "vicejar".
O movimento da psicologia positiva inspirou esforços em todo o mundo para estudar o estado de espírito das pessoas. É o caso de um projeto lançado no Reino Unido para medir o que o primeiro-ministro, David Cameron, chama de GWB ou "general well-being" (bem-estar geral). Seligman diz que fica satisfeito por ver governos medindo mais do que apenas o PIB, mas que receia que essas pesquisas perguntem às pessoas principalmente sobre sua "satisfação com a vida".
Teoricamente, a satisfação com a vida poderia incluir os vários elementos do bem-estar. Na prática, porém, diz Seligman, as respostas que as pessoas dão a essas perguntas são determinadas em grande medida -mais de 70%- por como estão se sentindo no momento da pesquisa, e não por como avaliam suas vidas de modo geral.
O que deveria ser medido, então? A melhor medida até agora do vicejar, diz Seligman, vem de um estudo feito em 23 países europeus por Felicia Huppert e Timothy So, da Universidade de Cambridge. Além de perguntar aos participantes sobre seus estados de ânimo, os pesquisadores indagaram sobre seus relacionamentos com outras pessoas e sua sensação de estarem realizando algo que valia a pena.
Dinamarca e Suíça apresentaram os resultados mais altos, com mais de um quarto dos cidadãos na definição de vicejar. Mais perto do fim da escala, com menos de 10%, estavam França, Hungria, Portugal e Rússia.
Seligman se recorda de seus primeiros experimentos que identificaram o conceito da "impotência aprendida".
Quando recebiam uma série de punições ou recompensas arbitrárias, os animais e as pessoas paravam de tentar realizar qualquer coisa construtiva.


Texto Anterior: Cipós dominarão grandes florestas
Próximo Texto: Saúde & Boa Forma
Doença atinge reis e plebeus

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.