São Paulo, segunda-feira, 06 de junho de 2011

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Verdadeiras obras-primas possuem poder terapêutico

Por CHARLES McGRATH

O artista russo Alexander Melamid é tão adepto da ironia que é difícil dizer até que ponto ele pretende ser levado a sério. Talvez nem ele mesmo saiba.
Seu projeto mais recente é algo chamado Ministério da Cura pela Arte, uma clínica no bairro do SoHo em Manhattan para onde as pessoas vão com hora marcada para receber tratamento, por meio da exposição às belas artes, de diversos problemas físicos e psicológicos.
Melamid e Vitaly Komar, outro imigrante russo, eram conhecidos pelas pinturas conceituais imensas, incluindo uma de Stálin se suicidando em Nova Jersey, e por ensinar elefantes na Tailândia a pintar como expressionistas abstratos.
Por conta própria desde 2003, Melamid tem pintado grandes retratos parecidos com o estilo de Velázquez, de rapeiros e oligarcas russos.
No Ministério da Cura pela Arte, há vários artigos de arte curativa à venda, incluindo velas, palmilhas para sapatos impressas com um autorretrato de Van Gogh e cartões de oração, um para Picasso, santo patrono dos motoristas, e um para Georges Seurat, santo protetor da pele jovem e radiante.
"Sempre me disseram que a arte era boa para mim", disse Melamid, "mas eu não sabia por que era boa. O que é bom? O que é bom, nos EUA, é saúde e produtos de saúde."
Recentemente, um homem de meia-idade que se queixava de estresse relacionado ao trabalho o procurou para um tratamento. Ele olhou com temor para uma vitrine que exibe algo chamado de "Infusor de Arte", que parecia ser uma antiga fita de videocassete ligada a uma bomba para lavagem intestinal. Mas Melamid o tranquilizou de que a infusão retal hoje está obsoleta e, então, o levou para os fundos da clínica, para o que parecia uma cadeira de dentista com uma tela de computador e um pequeno projetor.
Depois que o paciente se recostou, Melamid clicou por uma série de pinturas na pequena tela. Ele parou em um Cézanne e disse: "Se você tem febre, precisa ver Claude Monet. Para seu problema, eu recomendaria Cézanne. Quando você for ao museu, não olhe muito ao redor. Vá diretamente para Cézanne. É uma pintura muito poderosa, mas, de certa maneira, também tranquilizadora."
Para um alívio adicional instantâneo, Melamid projetou na testa do paciente um dos nus reclinados de Modigliani.
Depois, o paciente disse que não se sentiu exatamente melhor, mas tampouco pior.
Melamid acrescentou: "Você compreende que isto não é a sessão completa" e explicou que uma avaliação total demora 20 minutos com custo de US$ 125.
"Não faço isso por dinheiro. Faço pela saúde", ele disse. "Mas preciso sustentar minha família e, agora, meus netos."
Sobre sua nova carreira, Melamid disse: "A questão é se vou dar o passo e me tornar real. Se vou parar de ser um artista ou um conceitualista e me tornar um verdadeiro curandeiro. É isso que eu quero fazer. Sei que nunca o farei, mas é o que quero fazer."


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