São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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ENSAIO - RICHARD H. THALER

Confiantes, mas sempre errados

Financistas se enganam, mas raramente têm dúvidas

Empresas de quase todos os setores foram pegas de surpresa pela Grande Recessão. Poucos líderes empresariais parecem ter considerado que uma crise dessa magnitude seria possível.
Esses tomadores de decisões podem ter sido traídos por um defeito já documentado em centenas de estudos: o excesso de confiança.
A maioria de nós se considera "melhor que a média" na maioria das coisas. Também somos "descalibrados", o que significa que nossa sensação acerca da probabilidade dos fatos não condiz com a realidade.
Três economistas financeiros concluíram que os diretores financeiros não são muito bons em prever o futuro. Entre outras coisas, os CFOs (executivos-chefes de finanças, na sigla em inglês) foram questionados sobre suas expectativas para o índice mercantil S&P 500 para o ano seguinte.
As previsões deles estavam negativamente correlacionadas com os resultados reais. Na pesquisa de 26 de fevereiro de 2009, por exemplo, os CFOs fizeram as previsões mais pessimistas, antevendo uma alta de meros 2%. Ao longo do ano seguinte, a alta foi de 42,6%.
Talvez não seja nem perturbador nem surpreendente que os CFOs não prevejam corretamente o rumo das Bolsas. O que é perturbador é que, como grupo, muitos desses executivos não percebam que carecem da capacidade de fazer previsões.
Assim como os CFOs, os executivos-chefes costumam sofrer de excesso de confiança, o que pode levá-los a agir de modo pouco inteligente. Num estudo de 1986, o economista Richard Roll, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, sugeriu que o excesso de confiança possa explicar por que as empresas pagam tão caro para assumir outras companhias.
As empresas que fazem a aquisição muitas vezes não parecem lucrar com o negócio. Roll notou que as empresas compradoras em geral tinham desempenhos muito bons no passado recente, levando seus executivos-chefes a crerem erroneamente que seu sucesso poderia ser replicado nas empresas adquiridas.
Roll recentemente escreveu outro estudo sobre o tema, em que investigou uma forma particular de excesso de confiança -o narcisismo- usando um mecanismo simples: contar o número de vezes que uma pessoa usa um pronome em primeira pessoa. Os executivos-chefes mais narcisistas, concluiu, faziam mais aquisições agressivas a preços mais elevados.
Duas lições emergem desses estudos. Primeiro, que não devemos esperar que a competição para virar alto executivo filtre o excesso de confiança. Na verdade, a competição pode tender a selecionar pessoas excessivamente confiantes -e com sorte. Os executivos-chefes que chegam ao topo desse jeito costumam tropeçar quando sua sorte acaba.
A segunda lição vem de Mark Twain: "O grande problema não é o que você não sabe; é o que você tem certeza que sabe, só que não é verdade".


Richard H. Thaler é professor de economia e ciência comportamental na Escola Booth de Negócios, da Universidade de Chicago



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