São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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Prisão de hacker revela um submundo russo

Números de cartões roubados são vendidos mundo afora

Por ANDREW E. KRAMER
MOSCOU - Na internet, ele era conhecido como BadB, um criminoso incorpóreo, saltando de servidor em servidor para vender números de cartões de crédito roubados, apesar de estar sendo perseguido pelo Serviço Secreto dos EUA.
Na vida real, ele era praticamente intocável também, porque vivia na Rússia. O nome real de BadB é Vladislav A. Horohorin, segundo nota divulgada recentemente pelo Departamento de Justiça dos EUA, e residia em Moscou até ser preso numa viagem à França, no começo de agosto.
Ele deve comparecer em breve a um tribunal francês que irá decidir se o extradita para os EUA, onde pode ser condenado a até 12 anos de prisão e multa de US$ 500 mil pelos crimes de fraude e furto de identidade.
Durante pelo menos nove meses, ele viveu abertamente em Moscou como um dos mais procurados criminosos digitais do mundo. A prisão de BadB coloca uma lente sobre o obscuro mundo dos hackers russos, programadores malignamente engenhosos que representam uma reconhecida ameaça de segurança ao comércio on-line, e que parecem operar com relativa impunidade.
Nesse ambiente, a rede de BadB tornou-se "uma das organizações mais sofisticadas de criminosos financeiros on-line no mundo", segundo nota assinada por Michael Merritt, diretor-assistente de investigações do Serviço Secreto.
Já em novembro de 2009, promotores dos EUA identificaram BadB como sendo Horohorin, 27, cidadão ucraniano e israelense. Segundo o Serviço Secreto, ele administrava sites para hackers que eram capazes de roubar grandes quantidades de números de cartões de crédito, que eram vendidos anonimamente, on-line, para todo o planeta.
Os números eram trocados em sites chamados CarderPlanet -carder.su e badb.biz-, segundo o Serviço Secreto, e o pagamento era feito indiretamente, por meio de contas num sistema russo de transações chamado Webmoney, semelhante ao PayPal.
Prisões por crimes digitais são raras na Rússia, mesmo quando hackers radicados no país são publicamente identificados por grupos externos, como a Spamhaus, organização sem fins lucrativos com sedes em Genebra e Londres que monitora os spams.
O FBI em 2002 chegou a atrair um suspeito russo, Vasili Gorchkov, para os Estados Unidos, oferecendo-lhe uma falsa entrevista de emprego, em vez de pedir ajuda da polícia russa.
Para obter provas nesse caso, especialistas em informática do FBI invadiram remotamente o computador de Gorchkov na Rússia. Quando isso veio à tona, as autoridades russas manifestaram sua raiva com a tática transnacional do FBI.
As fraudes digitais não são uma alta prioridade para a polícia russa, segundo Dmitri Zakharov, porta-voz da Associação Russa de Comunicações Eletrônicas, que defende os interesses de empresas legítimas da internet local. Isso ocorre, segundo o porta-voz, porque a maior parte das fraudes tem como alvo a Europa ou os EUA.
Pesquisadores da segurança digital aventam outra possibilidade: que quadrilhas envolvidas com o spam tenham sido cooptadas por agências russas de inteligência, que dão cobertura para suas atividades em troca de usarem o conhecimento dos criminosos, ou de permitirem que suas redes infectadas por vírus sejam usadas para propósitos políticos -para derrubar sites de dissidentes, talvez.
A Spamhaus diz que 7 dos 10 principais difusores de spam no mundo ficam na ex-União Soviética -na Ucrânia, na Rússia e na Estônia.
Depois da prisão de Horohorin, o site badb.biz saiu do ar. Mas o site russo carder.su, também do CarderPlanet, continuava operando até o final de agosto.


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