São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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Um castelo de Hendrix onde músicos ainda beijam o céu

Por BEN SISARIO
NOVA YORK - Fundado por Jimi Hendrix em 1979, o estúdio Electric Lady foi uma novidade bizarra à época. Em lugar do estúdio usual -espaço grande e impessoal onde trabalhavam engenheiros de som comportados-, era um antro psicodélico com paredes curvas, luzes multicoloridas e murais com imagens eróticas de ficção científica.
Hendrix morreu menos de um mês depois de o estúdio ser inaugurado, em agosto de 1970, mas os artistas que trabalharam ali depois dele incluem os Rolling Stones, Stevie Wonder e Led Zeppelin.
A maioria dos outros estúdios de grandes nomes em Nova York fechou nos últimos anos, vítimas dos problemas do setor de gravação ou por pressões imobiliárias, mas o Electric Lady desafiou a tendência.
Eddie Kramer, o engenheiro de som favorito de Hendrix e força ativa na criação do estúdio, tem uma explicação simples para sua longevidade. "É a vibração", disse. "Quisemos criar um ambiente em que Jimi pudesse se sentir realmente feliz, capaz de criar qualquer coisa."
Debate recente realizado no estúdio incluiu homens que gravaram alguns dos álbuns mais festejados dos últimos 40 anos, mas desconhecidos do público.
Ao lado do sul-africano Kramer estavam Tony Platt, que mixou "Back in Black", do AC/DC, no estúdio em 1980; John Storyk, o arquiteto e especialista em acústica que projetou o estúdio, e Robert Margouleff e Malcolm Cecil, os ases do sintetizador recrutados por Stevie Wonder no início dos anos 1970. Também estavam presentes Lenny Kaye, guitarrista do Patti Smith Group, e Janie Hendrix, meia-irmã de Jimi.
Os engenheiros tentaram identificar o que é que confere tão importante vibração ao lugar. O espírito do fundador do estúdio foi citado mais de uma vez, ao lado do misto de equipamentos high-tech e ambiente descontraído.
"Todos os estúdios que a gente vê hoje nascem da proposta de serem lugares propícios para criar arte", disse Margouleff. "Foi realmente isso que este estúdio legou."
Para muitos artistas, o Electric Lady virou um lar longe de suas casas. Para Jimmy Page, do Led Zeppelin, as marcas pessoais de Hendrix e Kramer fizeram toda a diferença quando a banda mixou partes de "House of the Holy" ali em 1972.
"Eddie Kramer era um engenheiro fantástico", disse Page. "Se ele ia trabalhar em um estúdio que tinha o nome de Hendrix, ia garantir que fosse um lugar bom, com acústica boa, para que músicos sentissem vontade de tocar naquela sala."
Storyk comentou que a visão de Hendrix, que incluiu iluminação do tipo usado no cinema e salas de controle com espaço suficiente para que os artistas e técnicos trabalhassem juntos, ajudou a encarecer a construção.
A estimativa original foi US$ 125 mil, mas ele acabou custando cerca de US$ 1 milhão, contou Storyk, que conseguiu o trabalho no Electric Lady aos 22 anos e desde então projetou estúdios em todo o mundo.
"Foi a primeira vez em que um artista fez um estúdio", disse Storyk. "Isso estava acontecendo em bolsões mundo afora, mas nenhum ficou mais famoso que este, com Jimi."


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