São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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Em tempos mais difíceis, novamente rico e bêbado

Por MARK HARRIS
No meio de uma recessão, um trabalho cujas filmagens vêm atraindo multidões com câmeras em Nova York é o remake de "Arthur - O Milionário Sedutor", de 1981, a primeira comédia real da era Reagan, que anunciou os tempos do "mais é melhor".
Russell Brand, que faz o papel principal de Dudley Moore no filme original, já foi fotografado durante as filmagens correndo na rua apenas de cueca azul e roxa.
Helen Mirren, cujo papel foi de John Gielgud no original, observou: "Ainda bem que é apenas uma comédia, porque, se eu tivesse que ter uma atuação dramática com 30 câmeras pipocando, seria impossível". E Greta Gerwig, que faz a mulher que Arthur ama, teve que rodar sua primeira cena diante do terminal Grand Central em meio à agitação do horário do rush de uma manhã de segunda-feira.
É muito escrutínio para uma produção delicada -um remake de uma farsa leve sobre um milionário constantemente embriagado que não quer ficar sóbrio nem amadurecer. O "Arthur" original estreou seis meses após a posse de Ronald Reagan e a estreia de "Dinastia" na televisão.
O cartaz do filme mostrava Moore reclinado em uma banheira luxuosa, cheia de espuma, tomando um coquetel, sobre a legenda "você não gostaria de ser Arthur?". Os prazeres do materialismo eram ostentados descaradamente, e, tendo que optar entre riqueza imensa ou amor verdadeiro, a resposta do milionário era "prefiro ficar com as duas coisas".
Nem todos foram fãs do filme.
"Simplesmente não achei nem um pouco engraçado um filme sobre um baixinho bêbado", disse Mirren.
"As atitudes das pessoas em relação à riqueza mudaram, e as atitudes em relação ao álcool mudaram tremendamente", afirmou Brand.
Previsto para ser lançado em 2011, o remake inclui várias mudanças inteligentes -entre elas, uma babá no lugar do mordomo e um papel-título adaptado à postura de renegado de Brand-, mas Arthur ainda é muito rico e muito bêbado, e uma versão dourada de Nova York ainda funciona como seu playground pessoal.
Os criadores estão, de certa forma, inventando o filme à medida que o produzem. O roteiro passou por um processo circular de escrita que é incomum: sua primeira versão foi redigida por Peter Baynham, indicado ao Oscar por "Borat." Em seguida, passou por vários outros roteiristas. Mas, caso incomum na indústria do cinema, acabou voltando para Baynham, que chega ao set todos os dias pronto para reescrevê-lo.
"Arthur" é o trabalho de estreia de seu diretor, Jason Winer, 37, saído da televisão.
Brand -que, ele próprio, ficou sóbrio alguns anos atrás- contou que se preparou para o papel assistindo a filmes de W.C. Fields, a James Stewart em "Núpcias de Escândalo", Nicolas Cage em "Despedida de Las Vegas" e, é claro, seu predecessor, Dudley Moore.
"Dudley fez um beberrão cômico, executado com brilho, e eu também preciso ser um bêbado animado, criativo", disse Brand. "Mas também quero mostrar Arthur como um príncipe que pensa que tem o mundo inteiro a seus pés, mas se apaixona e é obrigado a tomar uma decisão, porque até agora ele terceirizou para outro ser humano sua responsabilidade de fazer escolhas adultas."
O novo Arthur vai assinalar um futuro sóbrio para seu herói e modificar seu tom para adequar-se a um momento em que o público fica mais revoltado que fascinado com os excessos dos ricos.
"Arthur, o que você tem a dizer às pessoas que criticam o comportamento de um ricaço como você em uma recessão?", pergunta um jornalista na cena um.
"Elas não deixam de ter alguma razão", responde. "Precisamos acabar com esta recessão."


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