São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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Mau tempo devasta vida de pastores mongóis

Por ANDREW JACOBS

PROVÍNCIA DE HANGAY SUL, Mongólia - Os mongóis o chamam de "zud" -um período prolongado de neves pesadas e frio paralisante que intensifica os desafios da vida local.
Mas o zud deste ano chegou após uma estiagem devastadora no verão, que retardou o crescimento do capim e deixou os rebanhos de Munkhbat Lkhagvasuren emaciados e sua família endividada.
No último inverno, quando a neve chegou à altura de sua cintura e a temperatura caiu para -40?, Lkhagvasuren colocou duas dúzias das cabras e ovelhas mais enfraquecidas dentro de seu "yurt" (tenda típica onde vivem os nômades mongóis).
Os animais que não tiveram sorte -mais de mil- morreram congelados em uma grande pilha diante da porta da tenda.
"Tentei tudo, mas não pude lutar contra a natureza", disse ele, às lágrimas. "Estou quebrado."
A Mongólia e seus 800 mil pastores foram devastados pelo pior inverno na memória dos mongóis. Segundo funcionários da ONU, quase 8 milhões de vacas, iaques, camelos, cavalos, cabras e ovelhas morreram -17% do rebanho do país. A previsão é que outro meio milhão de animais sucumba ao frio antes da chegada do verão no hemisfério Norte.
"É uma catástrofe não só para os pastores, mas para toda a economia da Mongólia", disse Akbar Usmani, do Programa de Desenvolvimento da ONU. "Prevemos que os efeitos sejam sentidos por anos futuros."
A ONU estima que o desastre possa impelir até 20 mil pastores a abandonar sua vida nomádica e fugir à capital do país, Ulan Bator.
"Muitos pastores não possuem outras habilidades, de modo que geralmente acabam infringindo a lei e mergulhando na pobreza", disse Buyanbadrakh, político local.
Como alguns mongóis, ele usa apenas um nome. Buyanbadrakh disse que 70% do rebanho de seu distrito, Zuunbayan-ulaan, foi exterminado neste ano pelo frio, tendo pelo menos 2.800 famílias perdido seus rebanhos inteiros.
O desastre levanta inúmeras perguntas sobre a degradação ambiental e uma dúvida: se o modo de vida pastoral tem futuro.
Os mongóis têm orgulho de seu estilo de vida nomádico milenar, personificado na deificação de Genghis Khan, o líder do século 13 cujos guerreiros a cavalo conquistaram boa parte da Ásia e Europa Oriental. Um terço da população ainda depende da criação de animais para sua sobrevivência. "A pergunta-chave que precisamos fazer é se esse modo de vida é sustentável", disse Usmani, da ONU.
No passado, 80% do rebanho de animais pequenos era composto de ovelhas, e o restante, de cabras. Mas, com a alta vertiginosa dos preços da lã caxemira na última década, essa proporção se inverteu, com resultados devastadores para a ecologia da estepe.
As cabras frequentemente destroem o capim, por mordiscarem suas raízes. E seus cascos afiados danificam as pastagens frágeis, ao romper o emaranhado protetor de capim e líquens, deixando que o vento leve embora a camada superior e mais fértil do solo.
Por enquanto, o governo está concentrado em dar cabo dos milhões de carcaças de animais mortos, agora que a primavera finalmente chegou. Um programa financiado com US$ 1,5 milhão da ONU paga os pastores para reunir as carcaças e enterrá- las.
Lkhagvasuren, 34, disse que levará pelo menos uma década para recompor seu rebanho.
Enquanto ele ficava sentado em seu yurt, uma equipe arrastou as carcaças e as empilhou em caminhões decrépitos. "Não tenho coragem de olhar", disse o pastor.


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