São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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Filho de Gaddafi emerge como aposta para mudanças

Por LANDON THOMAS Jr.

TRÍPOLI, Líbia - Abrir uma economia fechada não é tarefa fácil, especialmente se o país em questão é a Líbia, que passou mais de duas décadas de costas viradas para o mundo. É um desafio ainda maior quando, para quem o faz, fazê-lo significa bater de frente com o legado de seu pai e combater uma burocracia entrincheirada que tem pouco interesse em mudanças.
Mas é essa a meta de Seif al Islam el Gaddafi, filho e possível sucessor do líder líbio, Muammar Gaddafi. Seif quer desmontar o legado de socialismo e autoritarismo plantado por seu pai há 40 anos.
"Reinventar um país é um trabalho árduo", disse ele em entrevista no mês passado. "Mas é o que estamos fazendo. Teremos uma nova Constituição, novas leis, um código comercial e empresarial e um imposto de alíquota única de 15%."
Nos últimos anos, Seif Gaddafi, 37, que obteve doutorado da London School of Economics, fala inglês impecável e possui espírito independente, emergiu como o rosto da Líbia que é aberto ao Ocidente e como símbolo das esperanças de reforma no país. Quando, no ano passado, ele foi escolhido para chefiar um organismo governamental poderoso que reúne líderes tribais, analistas viram o fato como sinal de que estaria sendo endossado por seu pai.
Mas pouca coisa costuma ser o que aparenta na opaca política da Líbia. E ainda não está claro até que ponto a visão do jovem Gaddafi é expressão de uma política oficial ou apenas expressão de um sonho.
Analistas dizem que a resistência contra seus esforços de modernização parece estar crescendo. Recentemente, o governo restringiu as operações de dois jornais ousados que tinham o apoio de Seif. Seus pedidos por investimentos ocidentais foram prejudicados no mês passado, quando o governo proibiu a emissão de vistos aos cidadãos de mais de 20 países europeus que esperavam fazer negócios com a Líbia. E a velha Líbia beligerante pareceu estar no comando recentemente, quando Gaddafi pai intensificou uma disputa em curso com a Suíça, declarando a "jihad" contra esse país.
Tudo isso reforça a visão de que a facção linha-dura defendida pelo ambicioso irmão mais velho de Seif, Mutassim Gaddafi, assessor de segurança nacional da Líbia, estaria vencendo a disputa.
"Muitas pessoas aderiram às propostas de Seif, como se ele fosse o futuro da Líbia", disse Dana Moss especialista em questões líbias. "Mas ainda não está claro se será esse o caso. Tanto Seif quanto Mutassim terão voz em um sistema líbio futuro, mas a dúvida é quem falará mais alto."
Trabalhando desde fora do governo, Seif Gaddafi tem proposto ideias de longo alcance: a criação de zonas de investimento livres de impostos, de um paraíso fiscal para estrangeiros, a abolição da exigência de visto de entrada no país e a construção de hotéis de luxo.
"Podemos ser a Dubai do norte da África", disse. A Líbia é mais rica que Dubai, afundada em dívidas. Seu PIB per capita de US$ 15 mil a situa à frente de Polônia, México e Chile, segundo o Banco Mundial. O fundo soberano do governo tem US$ 65 bilhões. E o país anunciou planos de investir US$ 130 bilhões nos próximos três anos para melhorar sua infraestrutura.
Mas o lixo se espalha nas ruas de Trípoli, as calçadas são esburacadas, e os hotéis e restaurantes próprios para turistas são poucos. O desemprego é estimado em 30%.
"O custo de operar a Bolsa de Valores superar o volume diário negociado em ações", comentou Shokri M. Ghanem, presidente da companhia petrolífera estatal.
É improvável que esse cenário mude enquanto o governo não afrouxar seu controle rígido da economia. Para Ghanem, "há pessoas em cargos governamentais altos que se opõem à privatização, apesar de a maioria dos líbios desejar uma economia de mercado".


Colaborou Waqar Gillani


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