São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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Abelhas também podem ser excelentes fisionomistas

Por SINDYA N. BHANOO

Uma abelha melífera tem 1 milhão de neurônios, contra 100 bilhões do cérebro humano. Mas, segundo pesquisadores, as abelhas reconhecem rostos, e o fazem do mesmo jeito que nós.
Abelhas e humanos usam uma técnica chamada processamento configurativo ao juntar os componentes de um rosto -olhos, orelhas, nariz e boca- para formar um padrão reconhecível, escreveram pesquisadores recentemente na revista "The Journal of Experimental Biology".
Segundo Martin Giurfa, professor de biologia neurológica da Universidade de Toulouse, na França, e um dos autores do estudo, é a mesma capacidade que ajuda os humanos a perceberem, por seus componentes, que um pagode chinês e um chalé suíço são tipos de edifícios. "Conhecemos duas linhas verticais com um teto: é uma casa", disse ele.
Na sua pesquisa, Giurfa e seus colegas criaram um painel com imagens desenhadas à mão -algumas de rostos, outras, não.
Os rostos tinham tigelas de água açucarada diante de si; os "não rostos" ficavam atrás de tigelas com água pura. Após algumas viagens frustradas até tigelas sem água com açúcar, as abelhas continuavam voltando às tigelas açucaradas diante dos rostos, segundo os cientistas.
As imagens e as tigelas eram limpas após cada visita, para assegurar que as abelhas estavam se guiando por pistas visuais, e não por odores deixados.
Os pesquisadores descobriram ainda que as abelhas sabiam distinguir um rosto que entregava água com açúcar de um outro que não entregava.
Após horas de treino, as abelhas escolhiam os rostos corretos em cerca de 75% das vezes, disse Adrian Dyer, outro participante do estudo, cientista da visão na Universidade Monash, na Austrália.
Os pesquisadores disseram que o trabalho pode ter usos mais amplos, inclusive por especialistas em reconhecimento facial. "Se alguém achar [o trabalho] interessante e isso melhorar a segurança dos aeroportos, ótimo", disse Dyer. "Os mecanismos potenciais podem ser disponibilizados para a comunidade do reconhecimento facial como um todo."
Giurfa disse que o benefício de estudar uma criatura tão simples quanto uma abelha é saber que não foi preciso uma rede neurológica complexa para distinguir objetos. Isso pode oferecer esperança aos tecnólogos, afirmou.
Mas, embora a pesquisa com abelhas seja interessante, ela não ajuda os tecnólogos no problema mais difícil que enfrentam, disse David Forsyth, professor de ciência da computação na Universidade de Illinois, cujo trabalho está voltado para a visão informatizada.
De acordo com Forsyth, o problema desafiador é construir sistemas capazes de reconhecer as mesmas pessoas ao longo do tempo, quando o cabelo cresce, quando elas colocam óculos escuros ou quando envelhecem. São tarefas que os humanos normalmente podem fazer, mas que os computadores sofrem para replicar.
"Duvido muito que as abelhas possam notar a diferença", disse Forsyth. "Se as abelhas fizessem isso, eu cairia da minha cadeira."


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