São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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De olho na Lua ou só nos lucros

Após saída da Nasa, empresas esperam ter acesso a verbas

Por KENNETH CHANG

Agora que o último ônibus espacial pousou, uma nova geração de empreendedores do espaço está animada com a perspectiva de retorno do ser humano à Lua.
Com um incentivo de US$ 30 milhões oferecido pelo Google, 29 equipes competem para se tornarem a primeira empresa privada a pousar na Lua. A maioria delas dificilmente terá condições de superar os desafios financeiros e técnicos dentro do prazo estipulado, dezembro de 2015; mas vários participantes julgam ter chances de assumir a dianteira na corrida para explorar comercialmente nosso vizinho celeste.
No mínimo, uma frota de naves não tripuladas pode estar a caminho da Lua dentro dos próximos anos, com metas que variam do banal ao sublime.
Uma empresa surgida no Vale do Silício, a Moon Express, está se posicionando como um futuro serviço postal lunar. Ela realizou em julho uma festa para exibir a capacidade de voo do seu módulo lunar, com base em uma tecnologia licenciada pela Nasa.
Naveen Jain, um bilionário da internet e um dos fundadores da Moon Express, diz que a empresa vai gastar entre US$ 70 milhões e US$ 100 milhões para tentar conquistar o Prêmio Google Lunar X, mas que o investimento poderá ser recuperado já no primeiro voo. Ele antevê a venda de direitos de transmissão de vídeo a partir da Lua e também patrocínios de companhias interessadas em colocar seu logotipo na nave.
Outra concorrente, a Astrobotic Technology, pretende vender espaços da sua nave lunar para agências espaciais e instituições científicas, que pagariam US$ 1,8 milhão por quilo de material enviado. A empresa, surgida na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh (Pensilvânia), está construindo uma nave grande -bem maior do que a da Moon Express-, capaz de transportar 109 kg de carga útil (ou seja, US$ 200 milhões em frete), e espera ser capaz de lançá-la em dezembro de 2013.
"Podemos ganhar bastante dinheiro mesmo se não levarmos o prêmio", disse David Gump, presidente da Astrobotic. "Vamos ter um lucro substancial no primeiro voo. Basicamente, vamos equilibrar as contas vendendo um terço da capacidade de carga."
Os concorrentes do Lunar X poderiam ser engolidos por veículos espaciais que China, Rússia e Índia planejam lançar nos próximos dois anos. Essas iniciativas, porém, se enquadram mais nos moldes tradicionais de sondas científicas fabricadas por governos.
A Nasa queria enviar astronautas de volta à Lua, mas esse programa foi cancelado no ano passado por causa de cortes orçamentários e alterações de prioridades. Antes disso, no entanto, a agência concedeu à Moon Express, à Astrobotic e a uma terceira concorrente, a Rocket City Space Pioneers, verbas de US$ 500 mil -primeiras parcelas de um total de até US$ 30 milhões que vão contribuir para os esforços do Lunar X.
Aparentemente, não há entraves jurídicos aos objetivos dos competidores. O Tratado do Espaço Exterior, de 1967, ratificado por cem nações, proíbe que os países reivindiquem soberania sobre qualquer parte da Lua, mas não impede que empresas privadas façam negócios por lá. Quanto à mineração lunar, ela pode se enquadrar nos mesmos parâmetros jurídicos da pesca em águas internacionais.
"É provavelmente a maior oportunidade de criação de riquezas na história moderna", disse Barney Pell, ex-cientista da computação da Nasa e cofundador da Moon Express. Segundo ele, no começo, a empresa ganharia dinheiro enviando pequenas cargas, mas a grande fortuna viria com o transporte de platina e de outros metais raros originários da Lua.
Como os prêmios de aviação que estimularam a tecnologia relativa aos aviões um século atrás, o Lunar X se destina a mobilizar tecnólogos e empreendedores. Ele é administrado pela Fundação Prêmio X, que ofereceu, em 2004, US$ 10 milhões à primeira equipe privada que construísse uma nave capaz de levar pessoas a uma altitude de 96 km acima da Terra.
Para a competição lunar, o Google entrou com US$ 30 milhões. Desse total, US$ 20 milhões vão para a primeira equipe que pousar uma nave na Lua, explorar 500 metros e enviar à Terra vídeos e fotos em alta definição. A segunda equipe vai levar US$ 5 milhões, e os US$ 5 milhões restantes serão destinados a prêmios adicionais, como para a nave que sobreviver a uma frígida noite lunar ou para a que percorrer mais de 5.000 metros na superfície.
Na Moon Express, a imaginação de Jain corre solta. Um robô poderia rabiscar uma proposta de casamento na poeira lunar, tirar uma foto e enviá-la na Terra para a cara-metade do cliente. Uma cápsula do tempo, cheia de suvenires ou com uma mecha -e DNA- do cabelo de alguém, poderia ser enviada para a Lua, onde persistiria, incólume, no ambiente sem ar.
"As pessoas se tornam parte da exploração lunar", disse Jain, "e isso nunca foi feito antes".


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