São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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ANÁLISE DO NOTICIÁRIO

Al Qaeda luta por relevância

Por SCOTT SHANE e ROBERT F. WORTH

WASHINGTON - A Al Qaeda e o movimento que ela gerou provavelmente não serão prejudicados de imediato pela morte de Osama bin Laden, que, segundo a maioria dos relatos, há muito tempo está afastado da administração de operações terroristas.
Mas a morte do fundador e líder espiritual da rede terrorista global poderá reduzir ainda mais a atração do extremismo violento que Bin Laden representava.
"É muito importante simbolicamente", disse Audrey Kurth Cronin, que estuda terrorismo no Colégio Nacional de Guerra. "Mas no que diz respeito à Al Qaeda, a importância prática de Bin Laden não se compara com o que foi na época dos atentados de 11 de Setembro."
Ayman al Zawahri, que, há muito tempo, é o segundo no comando da Al Qaeda e o mais provável sucessor de Bin Laden, divulgou cinco gravações entre janeiro e abril tentando ligar os levantes no mundo árabe à inspiração jihadista por trás dos atentados de 2001.
Mas o grito de batalha jihadista não foi especialmente importante para as rebeliões, e Zawahri até se desculpou em suas mensagens por estar atrasado sobre os acontecimentos no mundo árabe: uma consequência de ser fugitivo, ele disse. O esforço de Zawahri para vender a ideologia da Al Qaeda como a resposta para os problemas do Oriente Médio se tornará ainda mais difícil com a morte de Bin Laden.
Um ex jihadista que lutou com Bin Laden no Afeganistão, Mohammad Omar Abdel Rahman, disse que o fundador da Al Qaeda não liderou o grupo nos últimos dez anos. "Ele sempre foi um símbolo", disse Abdel Rahman, 38. "Mas ele era incapaz de liderar e administrar enquanto era perseguido tão estreitamente."
Sobre a morte de Bin Laden, disse: "As pessoas vão sentir em seu coração, mas, no que diz respeito à ação, não terá impacto".
Se o impacto da morte de Bin Laden em 2 de maio no Paquistão é limitado, deve-se em parte a seu sucesso na criação de um movimento global descentralizado, com grupos muitas vezes unidos por pouco mais que uma ideologia comum. Os afiliados da Al Qaeda estão baseados no Iêmen, no norte da África e na Somália e assumiram um papel muito mais importante, incluindo ataques contra os Estados Unidos e a Europa.
"A transição pela qual o Oriente Médio passa, neste momento, será um campo de testes para ver se essas ideias vão sobreviver, voltarão como uma vingança ou deixarão de ser relevantes", disse Nelly Lahoud, associada sênior no Centro de Combate ao Terrorismo na Academia Militar dos EUA. "Os novos regimes emergentes vão trazer algo importante para o mundo muçulmano?"
Autoridades de contraterrorismo observam se grupos como a Al Qaeda na Península Arábica são distraídos pela luta de poder interna ou se movem para preencher o vácuo deixado pela morte de Bin Laden. Nas próximas semanas, autoridades de contraterrorismo estarão atentas para ataques idealizados por Zawahri e seguidores para mostrar que continuam potentes.
Um documento secreto americano descreve um suposto plano da Al Qaeda para detonar uma arma nuclear se e quando Bin Laden fosse capturado ou morto. As autoridades acreditam que o grupo não tenha essa arma, mas temem que a morte de Bin Laden possa ser um sinal preconcebido para acionar um complô.
"A questão é com que rapidez Zawahri e os remanescentes podem tentar provar sua importância com novas operações", disse Bruce Hoffman, um especialista em terrorismo na Universidade Georgetown, em Washington. "Seu incentivo é ainda maior agora."
Se Bin Laden foi o líder ideológico da Al Qaeda, Zawahri, 59, é seu cérebro organizador. Mas ele é visto como uma espécie de professor ranzinza, que se envolve em questões locais e disputas. Outros, entretanto, acreditam que as técnicas organizacionais de Zawahri serão mais necessárias do que carisma em um momento em que o núcleo da Al Qaeda precisa ser mantido coeso.
Enquanto os EUA realizavam sua caçada de dez anos por Bin Laden, seu apoio entre os muçulmanos despencou, muitas vezes depois de terroristas matarem civis muçulmanos. No Paquistão, por exemplo, uma pesquisa do Centro Pew mostra que a confiança em Bin Laden caiu de 46% em 2003 para 18% no ano passado.
Abdel Rahman, filho do xeque egípcio cego que cumpre pena de prisão perpétua por seu papel no planejamento do atentado às Torres Gêmeas em Nova York, disse que Bin Laden continuará inspirando outros. "Os Estados Unidos o mataram, mas deixaram tudo pelo que ele lutava", ele disse.


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