São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2010

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Exilados tentam manter sua luta viva no Irã

Por NEIL MacFARQUHAR
Um texto político divulgado neste ano por uma feminista iraniana apresenta um instantâneo de ativismo praticado desde o exílio.
Indignada com o pronunciamento feito por um aiatolá idoso, segundo o qual mulheres que expõem partes excessivas de seus corpos causam terremotos, a jovem advogada, que fugira para a Alemanha depois de ser presa no Irã, disparou um post na internet acusando todos os homens iranianos de cumplicidade na opressão das mulheres propagada pelos aiatolás.
A diatribe ganhou caráter viral instantâneo, provocando um debate entre iranianos; inúmeros homens criticaram a premissa.
Mas o furor desapareceu em pouco tempo, fato que sublinha o impasse enfrentado por antigos políticos de alto escalão, jornalistas, acadêmicos, estudantes e outros que buscaram segurança fora do país desde a contestada eleição presidencial de junho de 2009.
A internet os mantêm envolvidos com os acontecimentos no Irã, aliviando parte do isolamento que acompanha a vida no exílio. Mas eles não podem mais enfrentar diretamente o governo, cuja repressão sangrenta e ampla deixou o Movimento Verde, de oposição, com um futuro incerto pela frente. Desde Ancara, na Turquia, até Oslo e Nova York, os exilados lutam para continuar sendo relevantes.
"Eles fizeram o quadro de referência avançar, pelo fato de afirmarem que o Irã é comandado por um governo ilegítimo; isso nunca antes tinha sido dito por tantas pessoas que foram importantes no governo", comentou Behrouz Afagh, diretor do Serviço Mundial da BBC para a Ásia e o Pacífico.
"Mas só terão um futuro se as coisas continuarem a mudar dentro do Irã. Uma vez no exílio, eles podem continuar a exercer influência por um ou dois anos, mas, depois disso, o que disserem não terá a mesma ressonância."
O movimento acredita que o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad empurrou milhares de pessoas ao exílio para livrar-se de críticos sem criar mártires.
Teerã tenta combater o uso feito da internet pelos exilados, deixando a conexão mais lenta, de tal modo que vídeos do YouTube ou arquivos grandes frequentemente sejam impossíveis de se ver dentro do país. Mas o volume de dados que entra e sai é suficiente para que os exilados se sintam conectados.
As mulheres exercem papel de destaque entre os exilados, assim como na oposição iraniana.
No Irã, Asieh Amini, 37, lançou uma campanha pelo fim dos apedrejamentos, chegando a coletar pedras manchadas de sangue usadas em uma lapidação.
Táticas como essa estão fora de seu alcance na Noruega, para onde ela fugiu no ano passado. Por isso, em junho, ela se somou a uma dúzia de outros ativistas, criando um panfleto intitulado "Mais Uma Vez Desde a Mesma Rua". O texto sugeriu que os Verdes poderiam aprender com a luta pelos direitos das mulheres e seu êxito na criação de organizações de base no Irã.
À medida que o tempo passa, porém, muitos exilados têm a impressão de que, distantes da luta, deixaram de ter importância. Alguns voltam sua atenção a batalhas pequenas -como o abrandamento de sanções que proíbem a venda ao Irã de softwares, meta que alcançaram pouco tempo atrás. O ex-deputado Aliakbar Mousavi Khoeini pediu ao Google que fornecesse o Google Earth e publicidade no Google na língua persa.
Em Nova York, outra ativista contou que ainda participa de marchas antigoverno, apesar de às vezes sentir que isso é absurdo.
"Continuamos a vir aqui porque achamos que é importante, mas, francamente, não se muda nada saindo às ruas de Nova York", disse a mulher durante um protesto diante da ONU, em junho. "É em parte algo psicológico: não devemos deixar a batalha morrer."


Colaborou Artin Afkhami, em Washington



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