São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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Superfície marinha é santuário

Por CARL ZIMMER

Os oceanos são como um mundo alienígena. A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA estima que 95% deles permaneçam inexplorados. Mas os mistérios não começam bem abaixo da superfície. Começam na própria superfície.
Os cientistas estão descobrindo que o 0,25 mm superior do oceano é um pouco como uma folha de gelatina. E esse estranho habitat, mais fino que um cabelo humano, serve de lar a uma rara coleção de micróbios. "É realmente um ecossistema distinto", disse Oliver Wurl, do Instituto de Ciências Oceânicas do Canadá.
Essa microcamada mar-superfície é importante, segundo os cientistas, em parte porque influencia a química do oceano e da atmosfera. "Uma das coisas mais significativas que acontecem sobre o nosso planeta é o transporte de gases para dentro e fora do oceano", disse Michael Cunliffe, biólogo marinho da Universidade de Warwick, no Reino Unido.
O oceano armazena uma grande fração dos gases do aquecimento global que nós produzimos; na microcamada, os gases são puxados para baixo. "É o oceano respirando por sua pele", disse Cunliffe.
Os marinheiros sempre souberam que uma película oleosa pode cobrir a água. Mas, quando os cientistas começaram a estudar a superfície, em meados do século 20, acharam-na inconveniente. Um cientista não consegue simplesmente mergulhar um balde no mar sem revolver também a água mais profunda.
"Mesmo definir a superfície é difícil, já que ela está subindo e descendo", disse Peter Liss, professor de ciências ambientais na Universidade de East Anglia, no Reino Unido. Então, os cientistas tiveram de inventar ferramentas para coletar a superfície. Liss e seus colegas gelam um pedaço de vidro com nitrogênio líquido e o baixam ao mar, congelando a água ao seu contato.
Com isso, descobriu-se que o 0,25 mm superior é quimicante distinto. Está carregado de moléculas transportadas por bolhas de ar e concentradas na superfície. Pesquisas recentes realizadas por Wurl e seus colegas revelaram que a microcamada é rica num tipo pegajoso de carboidrato, que organismos unicelulares chamados fitoplânctons produzem para se agregarem em colônias, mais abaixo no mar.
Esses carboidratos acabam se soltando do fitoplâncton e se aglomerando. Os estudos de Wurl indicam que muitos deles sobem à superfície, formando uma película. "Imagino isso como pedacinhos de gelatina flutuando no oceano", disse Wurl.
Ele relata as descobertas em um artigo a ser publicado na revista "Marine Chemistry". Wurl suspeita que, quando as ondas perturbam a microcamada gelatinosa, bolhas de ar devolvem o material pegajoso de volta à superfície.
Liss disse que a microcamada é "claramente importante, porque é onde o oceano e a atmosfera interagem". "Mas é difícil estudar", acrescentou. "Então, ela não tem recebido a atenção que merecia."


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