São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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ARTE & ESTILO

Comida de filmes também pode ser deliciosa

Por KIM SEVERSON

O cinema americano há muito tempo usa perus semicrus coloridos com óleo de motor, frutas de plástico e sorvete esculpido em gorduras, mas a comida dos filmes está cada vez mais palatável e, até, deliciosa.
"Todo mundo acha que isso é tudo envernizado", disse Colin Flynn, chef de cozinha em Nova York que trabalhou no novo filme "Julie & Julia". "Nas décadas de 70 e 80 era mais assim. A comida parecia de massa de modelar. Hoje em dia, é quase sempre comida de verdade."
Para os chamados estilistas alimentares, a maioria dos quais começou como cozinheiros, é uma mudança bem-vinda. E os diretores acham que uma comida bem preparada pode melhorar a atuação dos atores e o aspecto final da cena.
Mas, quando a diretora Nora Ephron começou a rodar uma sequência essencial de "Julie & Julia", rapidamente ficou claro que aquele peixe à meunière poderia se tornar o Waterloo do seu estilista alimentar. O primeiro almoço de Julia Child em Paris, que ela descreveria como "a refeição mais excitante da vida", culminava com um linguado crepitando na manteiga.
"Eu queria que aquele linguado parecesse para a plateia do jeito que pareceu para Julia quando causou sua famosa epifania", disse Ephron, uma cozinheira de mão cheia, que escreveu o roteiro, dirigiu o filme e testou pessoalmente cada receita usada na tela, exceto o aspic (espécie de gelatina).
Susan Spungen, que junto com Flynn foi a estilista alimentar do filme, disse que percebeu o tamanho do problema ao chegar a um restaurante de Manhattan para rodar a cena.
Para começar, o chef que Ephron recrutara para cozinhar o peixe havia sido colocado como garçom da cena. Pior ainda, ela tinha apenas cerca de dez dos caros filés de peixe para trabalhar e não podia errar muito.
"Não sei como, mas finalmente conseguimos um que não grudou", disse ela. O linguado se tornou o momento alimentar favorito de Ephron no filme, que estreará em 16 de outubro no Brasil.
Para Spungen, foi só um dos vários milagres gastronômicos em um filme no qual a comida é tão importante quanto os atores. Para os estilistas, trata-se de ler os apetetites dos atores e saber quando empregar alguns truques. Mas, na realidade, o importante é o trabalho preparatório.
Flynn desossou 60 patos ao longo de "Julie & Julia". O pato "en croûte" foi o glorioso coroamento de Julie Powell, uma asssistente administrativa de Nova York que inspirou o filme com seu blog, escrito em 2003, no qual narra um ano de esforços para preparar todas as receitas do primeiro volume do livro "Dominando a Arte da Culinária Francesa".
Mesmo quando é preciso usar uma pequena mágica hollywoodiana, os estilistas alimentares tentam manter um mínimo aspecto de realidade. Em "Força Policial" (2008), duas atrizes eram vegetarianas. Por isso, uma chef vegetariana foi chamada para ajudar a montar uma grande ceia de Natal que tinha um presunto como item central. Ela acabou empilhando fatias de presunto de soja junto ao produto autêntico.
Outros atores simplesmente encaram, mesmo que normalmente não comam carne ou açúcar ou simplesmente não apreciem o prato citado no roteiro. Claro que muitas vezes um estilista alimentar precisa se valer de truques. Tortas de cereja são recheadas com purê de batata; o frango é parcialmente assado e pintado com um caldo marrom; glicerina e água criam gotas de suor nos copos; e o sorvete é colocado sobre "nuggets" ultracongelados para não derreter.
E há também criaturas no set de filmagem que devem ser combatidas. Em "Titanic", filmado no México, havia uso constante de inseticida para afastar as moscas da comida. "Pode ser muito pouco glamouroso, na realidade", disse Alison Attenborough, estilista alimentar de Nova York que trabalhou no filme. "Você ainda flagra os maquinistas roubando amêndoas açucaradas, mesmo tendo dito a eles que foram dedetizadas."
Em "Julie & Julia", porém, todo o esforço valeu a pena, segundo Powell. "A comida é muito mais bonita do que qualquer outra coisa que eu já tenha feito."


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