São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2011

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Paulo Coelho pirateia a própria obra

Por JULIE BOSMAN

Anos atrás, o romancista brasileiro Paulo Coelho, 64, pôs o senso comum de cabeça para baixo ao piratear sua própria obra, disponibilizando-a pela internet em países onde seus livros eram difíceis de encontrar, sob o argumento de que as ideias devem ser disseminadas.
Mais recentemente, ele provou que os autores podem construir um público nas redes sociais. Enquanto escreve, Coelho discute sua própria obra com os fãs.
Essa filosofia já o ajudou a vender dezenas de milhões de livros -o romance "O Alquimista", por exemplo, passou 194 semanas na lista de best-sellers do "The New York Times".
No mês passado, Coelho lançou seu novo romance, "O Aleph", que conta a epifania que viveu na Ferrovia Transiberiana durante uma peregrinação pela Ásia, em 2006. (Aleph é a primeira letra do alfabeto hebraico, com muitos significados místicos.) O autor passou quatro anos reunindo material para o livro, mas apenas três semanas escrevendo-o.
Divulgar o livro não deve ser problema; Coelho já reuniu 2,4 milhões de seguidores no Twitter. Em 2010, a "Forbes" o considerou a segunda celebridade mais influente do serviço de microblogs, atrás apenas de Justin Bieber.
O escritor continua distribuindo gratuitamente seu trabalho, ao oferecer links para sites que contêm seus livros. Ele só pede que, se as pessoas gostarem, comprem um exemplar, "assim poderemos dizer à indústria que compartilhar conteúdo não é uma ameaça ao negócio editorial", como escreveu em um post.
Da sua casa, em Genebra, Coelho falou sobre sua obra. Veja trechos da entrevista.

P. O protagonista do seu novo romance parece familiar: escritor de sucesso, viajante, espiritualmente curioso. Até que ponto o livro é autobiográfico?
R. Cem por cento. Essas são minhas experiências integrais (...). Eu precisei resumir muita coisa. Mas na verdade eu mesmo vejo o livro como a minha jornada, não como um livro de ficção, e sim como um livro de não-ficção

P. Seu livro mais famoso, "O Alquimista", vendeu 65 milhões de exemplares no mundo todo. É uma surpresa para o senhor que continue a fazer sucesso?
R. É claro. É difícil explicar o porquê. Acho que você pode ter 10 mil explicações para o fracasso, mas nenhuma boa explicação para o sucesso.

P. O senhor também teve sucesso distribuindo sua obra gratuitamente. É famoso por colocar na internet versões pirateadas dos seus livros, algo muito heterodoxo.
R. Vi a primeira versão pirateada de um dos meus livros, aí eu disse: vou colocá-la na internet. Era um momento difícil na Rússia; eles não tinham muito papel. Coloquei esse primeiro exemplar on-line e vendi, no primeiro ano, 10 mil exemplares lá. E, no segundo ano, saltou para 100 mil exemplares. Aí comecei a colocar outros livros on-line, sabendo que, se as pessoas lerem e gostarem, vão comprar o livro. Minhas vendas não param de crescer.

P. E agora o senhor é um escritor com um dos mais proeminentes perfis da internet. O senhor é viciado em Twitter?
R. Sim, confesso. Tuíto de manhã e à noite. Ao escrever 12 horas por dia, há um momento em que você está cansado. É minha hora de relaxar. Já que descobri o Twitter, o Facebook e o meu blog para me conectar aos leitores, vou usá-los para partilhar pensamentos que não usei em livros. Hoje tenho 6 milhões de pessoas no Facebook. É inacreditável.


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