São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2011

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Duas rodas americanas em Paris

Por SCOTT SAYARE

PARIS - Há anos elas são acessórios exibidos por jovens descolados nas ruas do Brooklyn a San Francisco. Também viraram um tradicional fetiche em Tóquio e Londres.
Demorou mais para que a elegante bicicleta de roda fixa pegasse em Paris, mas esse estilo decididamente está na moda.
De repente, as fixas -bicicletas delicadas, sem marchas, que só andam quando são pedaladas e não podem descer ladeiras "na banguela"- parecem onipresentes: sobre os paralelepípedos do Marais, nos bulevares do Quartier Latin, na encosta do Montmartre. Estão por todo lado.
Elas surgem em vitrines, em editoriais de moda, em revistas femininas. Os aficionados da "pignon fixe" organizam corridas, partidas de "bike polo" e passeios em grupo por Paris.
Como era de se esperar, muitos proprietários de bicicletas fixas são estudantes de design e garotos ligados à informática.
Mas também há jovens executivos abastados, aposentados aventureiros e todo tipo de homens e de mulheres elegantes.
Há fixas novas e fixas velhas; modestas fixas caseiras e fluorescentes fixas de fábrica; fixas dando piruetas junto aos skatistas atrás do Palais de Tokyo.
Ao contrário da atitude "eu sou mais descolado que você", frequentemente associada aos fãs americanos dessa bicicleta, em Paris parece haver um convívio mais cordial entre os adeptos.
Apesar da arrogância pela qual esta cidade é conhecida, a comunidade que se desenvolveu em torno da bicicleta fixa é excepcionalmente aberta.
"Não existe esse elemento de esnobismo", disse Bruno Zuzzé, 33, fundador do Surplace, um clube que organiza frequentes passeios coletivos de bicicletas fixas pela capital francesa.
Os donos desses modelos costumam se cumprimentar nas ruas, "como os motociclistas de antigamente", segundo ele.
O site Pignonfixe.com, um fórum criado em 2007 para esse público, recebe quase 50 mil visitantes únicos e 2 milhões de "page views" por mês.
Assim como Zuzzé, muitos na vanguarda parisiense da roda fixa disseram ter visto essas bicicletas pela primeira vez durante visitas a Nova York (onde os mensageiros há décadas as usam em seus deslocamentos diários), para então voltarem, invejosos, à França.
Mas, aqui na terra do "terroir", a procedência é motivo de sobra de orgulho para os fãs.
Muitos fãs da roda fixa passaram a construir bicicletas com antigos quadros artesanais franceses, segundo Thomas Courvalin, 34, o despretensioso advogado que criou o Pignonfixe.com.
A moda da roda fixa por aqui envolve uma clara nostalgia, segundo Courvalin -a saudade de uma era de mais "despreocupação" e leveza na França.
O país tem uma grande tradição ciclística, lembrou ele, que está sendo redescoberta graças à moda das bicicletas fixas.
E para isso, observou, não é preciso mais olhar para o outro lado do oceano Atlântico.


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