São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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Francisco Costa: mineiro e minimalista

Por SUZY MENKES

Francisco Costa, diretor criativo de roupas femininas para Calvin Klein, nasceu no Brasil em 1961. Depois de chegar a Nova York, no início de década de 1980, Costa trabalhou com Oscar de la Renta e Tom Ford. Iniciou seus projetos na Calvin Klein em 2003.
A seguir, o designer responde a perguntas de Suzy Menkes, editora de moda do International Herald Tribune, sobre minimalismo, seus pais e o drama da cor.
Pergunta: Suas raízes são brasileiras, mas na função de diretor criativo da Calvin Klein você produz coleções cool, controladas, comedidas. Você esconde parte do seu espírito latino, agora que mora em Nova York? Ou existe um lado diferente do Brasil que vai além do Rio de Janeiro e do Carnaval?
Resposta: Carnaval, cores vibrantes e partes do corpo à mostra representam o Brasil, mas isso reflete mais o Rio. Na pequena cidade onde cresci, em Minas Gerais, as pessoas se vestiam de forma simples, geralmente de branco, por causa do calor. Eu vivia em um lugar que valorizava elementos naturais - ar, terra e água. A estética era pura e orgânica, como a da Calvin Klein Collection.
A arquitetura brasileira moderna, como as obras de Oscar Niemeyer, também mostra outro lado do país, o que ajudou a moldar e influenciar meus desenhos.
P: Fale um pouco sobre sua vida no Brasil. Você foi mais influenciado por sua mãe, porque ela fazia roupas infantis, ou por seu pai, com os cavalos na fazenda? E como você mudou para ser designer de moda em Nova York?
R: Um dos meus passatempos favoritos, quando jovem, era visitar a fábrica de roupas de minha mãe, em Guarani (MG), depois da escola. Foi ali que aprendi sobre tecidos e cores, começando a desenvolver meu processo de criação. Depois que minha mãe faleceu, tomei a decisão de ir para Nova York e correr atrás dos meus interesses em moda.
P: Como foi receber o legado de um estilista tão icônico quanto Calvin Klein? Tratou-se de um processo de aprendizado difícil? Hoje você se preocupa em adotar um posicionamento fashion ou em fazer roupas que vendem?
R: Assumir a função de diretor criativo de roupas femininas da Calvin Klein Collection foi difícil, porém empolgante. Representou um desafio enorme, porque o que Calvin fez pela marca e por essa indústria foi monumental.
No entanto, recebi carta branca, sabendo que ele tinha me escolhido pessoalmente para a função. Além disso, a experiência de trabalhar com Calvin e aprender com ele antes que vendesse a empresa tem um valor incalculável. Ele era um chefe maravilhoso, que desafiava todos e sempre nos motivava a criar algo novo - o que continua sendo o objetivo da marca hoje.
P: Você se tornou um especialista no minimalismo como uma forma de arte. Você discutiu o assunto com o arquiteto John Pawson durante um evento de design em Miami e colaborou com um livro de Elyssa Dimant (Minimalism and Fashion: Reduction in the Postmodern Era, Harper Design, 2010). Explique-nos um pouco mais sobre essa paixão pelas coisas simples.
R: Tanto no meu estilo de vida quanto no meu processo de criação, tenho uma abordagem minimalista. Para mim, o minimalismo é redução. Gosto de me cercar de objetos, ideias e cores interessantes, e então uso um processo de eliminação para abstrair sua essência e chegar ao seu verdadeiro espírito. O resultado é uma sensação de equilíbrio, de pureza e de continuidade.
P: Você trabalhou para Oscar de la Renta e Tom Ford. O que aprendeu com esses mestres?
R: Os dois foram mentores incríveis. Com Oscar de la Renta, aprendi muito sobre produção artesanal, qualidade e cor. Trabalhando na Gucci com Tom Ford, que era um visionário, desenvolvi uma compreensão maior sobre marcas de lifestyle.
P: Notei recentemente que a cor entrou em suas coleções - não tanto na passarela, mas quando você vestiu celebridades para o Golden Globes e o Oscar deste ano. Havia um vestido dourado metálico para Gwyneth Paltrow, Claire Danes usando hot pink, Emma Stone vestindo um tom de pêssego, e Jennifer Lawrence, de vermelho. É seu sangue brasileiro correndo por suas veias fashion?
R: Embora eu prefira manter uma paleta de cores clean e neutra na passarela, acho que o tapete vermelho é o lugar perfeito para trazer um pouco de cor e drama.
P: Que conselho daria a jovens estilistas brasileiros?
R: Estejam preparados para trabalhar duro, mantenham a confiança em suas decisões e nunca desistam de seus objetivos.


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