São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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A um passo da compra online

Por JESSICA MICHAULT

Cariocas brincam que os paulistanos adoram fazer compras porque São Paulo não tem praia. É verdade. Compram, mas muito pouco pela internet. Pelo menos, luxo.
O Brasil abraçou o universo online - uma em cada três pessoas tem acesso à internet. Mas esse número não está se traduzindo em vendas online de produtos de luxo por razões sociais e econômicas.
"Comprar é uma parte fundamental da cultura brasileira", diz Ana Santi, vice-editora da revista "Draper", que possui um blog popular chamado Nascido no Brasil. "Em São Paulo, o shopping substitui a praia."
Clientes de luxo no Brasil são extremamente conscientes e colocam grande importância na riqueza perceptível que exibem, por meio das grifes, "especialmente as que têm logos mais reconhecíveis", diz Juliano Corbetta, editor da revista "Made In Brazil".
Acrescente-se a isso o fato de que um alto nível de serviço é esperado pelos clientes, que adoram ser mimados pelos vendedores, o que explica a razão de ser difícil atrair uma clientela de primeira linha no mundo incipiente do comércio pela internet no Brasil.
"O mercado ainda está em fase inicial de desenvolvimento", diz Carlos Ferreirinha, fundador da agência de marketing MCF Consultoria & Conhecimento, especializada em marcas de luxo, com sede em São Paulo. Ele espera que a indústria de luxo online entre nos trilhos em dois ou três anos. "Em 2014, teremos algo forte." Ele observa que o custo do transporte de bens de luxo vindos dos EUA ou da Europa somado à taxação de produtos importados pode exceder o preço original do produto.
Uma das mais bem sucedidas e-varejistas no Brasil é o e-closet.com.br, que reúne os mehore estilistas com etiquetas nacionais e algumas marcas estrangeiras.
Um grupo internacional de comércio eletrônico que está encarando as questões dos clientes para valer é o mrporter.com, site de moda masculina, que também conta com a ajuda das operações de suas associadas, a netaporter.com e a outnet.com. "Lançamos uma política de impostos embutidos no valor total a ser pago e, com isso, eliminamos as dúvidas dos clientes em relação ao custo final para ter seus pedidos finalizados", diz Alison Loehnis, vice-presidente de vendas e marketing da netaporter.
"As compras online ainda são relativamente um novo conceito para os brasileiros", diz Corbetta, acrescentando que o medo de ter os cartões de crédito clonados e ser alvo de outros tipos de fraude, ameaças que se revelam reais, são os grandes entraves para o crescimento do varejo online. Locais mais seguros e uma classe média que possui dinheiro no bolso têm ajudado a impulsionar as vendas.
De acordo com a agência MCF, 30% dos usuários de internet do país compraram algo online em 2010, com cada cliente gastando uma média de US$ 820, mas a maioria das compras contemplava livros, DVDs, eletrodomésticos e eletrônicos.
A boa notícia para o varejo eletrônico é que uma grande parcela dessas vendas vem de brasileiros com menos de 30 anos. E 60% da população do país está abaixo dos 29 anos. É claro, os brasileiros mais jovens formam o setor mais ligado à internet, gastando uma média de nove horas por dia na web em atividades relacionadas, ainda de acordo com a MCF.
Para explorar tais compradores, as marcas dizem que precisam aproveitar o sucesso das redes sociais no país. Até porque, 79% dos usuários de internet no Brasil fazem parte de pelo menos uma rede social e geralmente gastam mais de seis horas por mês atualizando seus perfis, segundo a Click, agência de marketing e publicidade digital, com quatro escritórios no Brasil.
Ferreirinha, da MCF, recomenda que as marcas de luxo criem fan pages locais em sites como Facebook, além de vídeos em português para o YouTube.
Esse toque humano pode vir, também, na forma de blogs. Já existe uma força poderosa do luxo online em grande parte do mundo, mas somente agora o blog se populariza no Brasil. A Click calcula que 2,6 milhões de brasileiros atualizam seus blogs diariamente, o suficiente para classificar o país entre os mais ativos do mundo.


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