São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Enxurrada de drogas e dinheiro contamina a divisa México-EUA

Por JAMES C. McKINLEY Jr. e MARC LACEY

LAREDO, Texas - O dinheiro corre solto nas ruas de Laredo -maços de cédulas encardidas, com resíduos de cocaína, embalados em plástico e escondidos em compartimentos de caminhões, ônibus e carros que diariamente cruzam a fronteira mexicana, como um incessante rio motorizado.
Funcionários da alfândega já descobriram inúmeras formas de esconder dinheiro, como os US$ 3 milhões encontrados sob o piso de um ônibus e o US$ 1,6 milhão enfiado em mochilas levadas por pessoas que atravessavam o rio Grande.
Apenas em aeroportos e postos de fronteira, a alfândega americana apreendeu US$ 57,9 milhões no ano fiscal que terminou em 30 de setembro -um aumento de 74% em relação ao ano anterior. Uma vez no México, o dinheiro é facilmente absorvido por uma economia clandestina, que opera com dinheiro vivo, ou então lavado através de empresas aparentemente legítimas.
Nos últimos 35 anos, os EUA reforçaram regulamentos bancários e reprimiram esquemas sofisticados de lavagem de dinheiro. Com isso, uma parte maior da verba obtida com o tráfico de drogas está sendo contrabandeada para o México à moda antiga, diz a polícia.
Autoridades dos EUA dizem que impedir remessas e a lavagem de dinheiro é crucial para combater os cartéis no México, que, desde que o presidente Felipe Calderón começou a reprimi-los, em 2006, iniciaram uma onda de violência que já ceifou mais de 15 mil vidas.
Policiais e empresários no México dizem que o ataque aos cartéis está levando os narcotraficantes a diversificar sua atuação, criando firmas como spas e creches para lavar dinheiro, ou vendendo produtos novos, como filmes pirateados e petróleo roubado.
"É uma evolução natural da atividade criminosa, como aconteceu com a máfia nos anos 1950", disse John Feeley, vice-chefe de missão da Embaixada dos EUA na Cidade do México. "Eles não podem continuar a trabalhar com apenas um produto ilegal."
Mas o México ainda não fez muitos avanços no combate à lavagem de dinheiro, e funcionários da alfândega dizem que o dinheiro que apreendem é só uma parte ínfima do total que atravessa a fronteira.
Embora o México tenha apreendido US$ 138 milhões no ano passado, é um valor minúsculo comparado aos US$ 18 bilhões a US$ 39 bilhões que o DEA estima que sejam contrabandeados todos os anos.
"Um volume enorme de dinheiro flui sem ser detectado ou barrado", disse John T. Morton, secretário-assistente de Imigração e Policiamento Alfandegário. "Tentamos ficar um passo à frente das pessoas que transportam o dinheiro. No momento, infelizmente, estamos um passo atrás."
Na fronteira, as autoridades federais vivem em um jogo de gato e rato com os traficantes. Estes empregam espiões para identificar postos de verificação, enquanto informantes passam dados sobre a movimentação de dinheiro vivo aos agentes federais.
A polícia diz que, uma vez no México, o dinheiro vivo é fácil de lavar. Embora o governo mexicano tenha endurecido os regulamentos bancários, os cartéis ainda compram imóveis, automóveis e outros artigos de luxo com dinheiro vivo, sem que qualquer denúncia de atividade suspeita seja registrada.
Os vendedores então depositam valores enormes, mas legais, e o dinheiro flui para a economia. Boa parte do dinheiro chega a firmas de câmbio e volta aos EUA em caminhões blindados, disseram especialistas. O dinheiro também é contrabandeado do México para a Colômbia e outros países para pagar produtores de cocaína.
Em setembro, autoridades dos dois países infiltraram uma rede de contrabando que comprara uma fábrica química e estava enviando US$ 41 milhões em dinheiro vivo à Colômbia. As cédulas estavam escondidas em contêineres, junto com um produto químico industrial.
O Departamento do Tesouro diz que os cartéis também lavam dinheiro através de empreendimentos como o spa Perfect Silhouette, na Cidade do México, e a creche Happy Child, em Culiacán.
Em Monterrey, um comerciante explicou como o Zetas, um dos grupos mais temidos do crime organizado e cujo símbolo é um unicórnio, converteu sua barraquinha de feira em ponto de venda de produtos pirateados, como filmes e CDs. Hoje, os cartéis produzem suas próprias cópias piratas e as vendem sob seu selo próprio.
"Eles chegam dizendo 'esta loja agora pertence a nós'", contou o comerciante assustado, que exigiu anonimato para evitar a fúria dos novos patrões. "O Zetas me paga um salário. É muito menos do que eu ganhava antes, mas não se pode dizer 'não' a essa gente."


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